O Elefante continuou a expor o que ensinava:
– Avatarização é inspirar, intuir, influenciar… Na avatarização a capacidade mental de quem é avatarizado, é ampliada sem que a pessoa se desligue da sua própria consciência.
Ouvindo isso, a Lhama, guardiã ou Totem do antigo povo Inca, quis dar sua interpretação: avatarização é um ser ou mais de um ensinando à distância.
– Isso mesmo – o Elefante gostou. O termo avatarização tem origem na palavra avatara, que significa “descida da Lei” ou “descida da Divindade”. Na língua Tupi avatara quer dizer “antepassado, antigo, velho, avô”, ou seja, a manifestação daquele que tem mais Sabedoria. No caso, o ANCIÃO DAS IDADES, que simbolicamente “sempre se apresenta como um Ancião de Barbas Brancas e Longas e com uma Mitra, contendo uma Criança no alto”. Avataras são “seres de outros planos dirigindo os destinos da Terra”. Quando o avatara se manifesta, um opositor tem direito de também se manifestar, porque o homem, não tendo terminado ainda a sua evolução, é por isso mesmo imperfeito, traz em si o bem e o mal em luta. Forças brancas e negras, divinais e infernais, positivas e negativas, luminosas e sombrias…
– Não se poderia evitar a manifestação das forças sombrias? – perguntou a Avestruz.
– Não enquanto os habitantes da Terra atraí-las… – explicou o Elefante. Se o ambiente for favorável, não há como impedir. No início das coisas, a própria “encarnação do Espírito de Verdade” foi que se manifestou… A Verdade foi, primeiramente, impulsionada no mundo pelo próprio Espírito de Deus. Sei que é complicado entender isso, mas não sei explicar de outro modo.
– Não se preocupe amigo Elefante, já nos foi ensinado que o avatara “aparece na Terra para diminuir o peso da mesma”. Aprendemos, também, que a Essência Divina do avatara é sempre a mesma, o que difere é o modo dela agir, que varia conforme a época em que se manifesta. Mas como reconhecer o avatara é que ainda não aprendemos.
– A Iniciação ajuda – explicou o Elefante.
– Mas o que é Iniciação? – roncou a Avestruz.
– Iniciação é adquirir o “Saber que redime, o Conhecimento Real”, que é sempre progressivo, proporcionando ao interessado expiar faltas, redimir-se, libertar-se… O Conhecimento Real amplia a consciência, fazendo com que o discípulo evolua mais rápido e, consequentemente, esgote mais depressa o seu karma. Por sua própria natureza divina, o homem “se transforma diariamente”, o que não deixa de ser, também, Iniciação, ainda que inconsciente. Mas o Iniciado mesmo, ele sofre, pois descontar karma mais rápido, reduzindo o número de reencarnações, não é gratuito, tem suas agruras… Outro fator importante, é que o Iniciado realmente integrado no Conhecimento Real, ele sente a Dor do Mundo. Por quê? Porque entendendo a razão do sofrimento, ele quer ajudar outros a entenderem, mas não consegue ser ouvido… A maioria acha esse assunto maçante… Uma coisa, porém, é certa: “tudo na vida é Iniciação”. Quando o homem começa a sentir atração pelas coisas divinas ou superiores, ele já é um Iniciado em perspectiva. Decorrido algum tempo, ele passa a discípulo de um verdadeiro mestre, que, visível ou não, sempre estará ao seu lado, ajudando-o, até que ele saiba caminhar sozinho na Grande Vereda da Iniciação. Passado alguns anos, que varia de discípulo para discípulo, chega, finalmente, o dia em que o discípulo terá de forçosamente “aniquilar o Dragão do Umbral”, que é a forma simbólica de todos os erros cometidos em todas as suas existências. Aniquilado esse Dragão simbólico, “a Consciência se manifesta no homem e o Dragão desaparece”.
– Amigo Elefante, tentando entender o que você insinuou, eu concluí que Iniciado ou não, “raro é aquele que não possui o Dragão do Umbral” – disse a espertinha Avestruz.
– Você entendeu bem. E digo mais: “no começo da evolução não havia necessidade de Mistérios Iniciáticos. O Conhecimento era propriedade de todos, e predominou, universalmente, durante a Idade de Ouro. Porém, os homens se multiplicaram muito rapidamente, e então múltiplas também foram as mudanças em seus corpos e mentes… Certos exageros contrários à natureza humana, se enraizaram de tal maneira, que acabaram por levá-los a crer em uma série de superstições. Dos desejos e paixões até então desconhecidos, nasceu o egoísmo, pelo qual os homens abusaram de seu poder e sabedoria, até que finalmente foi preciso limitar o número de conhecedores… Assim teve lugar então a Iniciação e seus Mistérios. A necessidade de encobrir a Verdade para resguardá-la de possíveis profanações, fez-se sentir cada vez mais em cada geração, e assim se converteu em Mistério”. Esta é a explicação que consigo passar para vocês, de como a Iniciação, que antes era um privilégio de todos, teve de ser ocultada, destinada apenas àqueles que realmente tivessem interesse pelas coisas divinas ou superiores.
– Entendi, e creio que nossos companheiros também. Concluímos então que Iniciação é responsabilidade.
– Sim, compromisso com DEUS, que se não for levado a sério, melhor seria nunca assumir.
– Se não assumir ou se a pessoa desistir no meio do caminho, o que acontece?
– Ao dedicar-se à Iniciação, que é o “Saber que redime”, a pessoa passa a provar do saboroso fruto do Conhecimento Real. Se mais tarde abandona esse Caminho Espiritual, ela ainda não sabe, mas com o passar do tempo sua Alma começa a inquietar-se… Por quê? Porque ficou impedida de alcançar um grau maior na sua evolução. A pessoa então passa a sentir uma insatisfação interna que a princípio não entende, mas se for observadora, perceberá que é o lamento de sua Alma, que se sentiu traída… E muitas vezes por um motivo banal, que poderia ter sido olhado como um teste da própria Iniciação.
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Trecho do livro de Adiel, ”Quando Deus É Feito Homem – Uma história contada pelos bichos”, Volume 1. Ver no site www.adiel.blog.br