LOHENGRIN
Henrique José de Souza
Enredo que serviu ao grande compositor Richard Wagner
para escrever sua maravilhosa e iniciática ópera intitulada LOHENGRIN.
Roso de Luna lhe dedicou uma das mais brilhantes obras:
“Wagner Mitólogo y Ocultista”.
… Tendo o mesmo LOHENGRIN feito ver a Elsa (já sua esposa, por ter Ele tirado o País de situação difícil, guerreira), que lhe não poderia confiar tamanho segredo (isto é, de seu nome e origem), no entanto a feiticeira Ortruda procurando sugestioná-la (como Mal em oposição ao Bem) a insistir nesse propósito, teima ela com seu bem-amado para que lhe revele o maior mistério da sua vida: seu verdadeiro nome e país da sua origem.
E é assim que se trava o colóquio entre os dois, segundo vamos descrevê-lo:
— Juro que confio em ti, porém tu, sim, que não confias em tua esposa. Tais segredos ninguém poderia guardar melhor do que eu.
O Cavaleiro mirando-a tristemente, respondeu-lhe do seguinte modo:
— Por que fazes mais caso das maldosas palavras de uma mulher como Ortruda, que da promessa que me fizeste? Já sabias que, logo eu te revelasse tal segredo, seria obrigado a deixar a face da Terra para sempre…
Estas palavras despertaram na mente de Elsa a recordação das que Ortruda proferira na véspera. E assim, respondeu com a maior veemência:
— Tal segredo será tão vergonhoso para que tu não o queiras revelar a tua esposa?
O Cavaleiro discutiu ainda com a esposa, por muito tempo, na esperança de carinhosamente a convencer de que lhe não era permitido pronunciar tão fatais palavras. Fez-lhe ver que sua Pátria era de natureza celestial. E que foi para salvá-la que “havia abandonado o REINO DA PAZ E DA FELICIDADE”. Fez-lhe ver, ainda, o esplêndido futuro que a ambos aguardava, se governassem com bondade e retidão (que bom exemplo para os tempos que correm…) o ducado de BRABANT, porém, Elsa se achava bastante excitada pelos acontecimentos do dia, para ligar importância a tais razões mais que justificáveis. Ademais, o receio de perdê-lo, enche seu coração de medo, a ponto de, agarrando-se no braço do esposo, dizer-lhe banhada em lágrimas:
— O que por Magia vem, por Magia deverá ir, contanto que, teu dever é confessar o País a que pertences…
Um olhar de dor e de tristeza se fez sentir na fisionomia do Cavaleiro. E já se preparava ele para responder, quando, de repente, a porta secreta se abriu – do aposento onde ambos estavam – dando entrada ao conde de Telramundo (“este mundo terreno, dizemos nós, em que somos forçados a viver… para cumprir o altíssimo dever que, por Lei nos foi imposto… Razão das “repetidas traições que recebemos, muitas vezes, dos maiores amigos!). O mesmo vinha acompanhado de mais quatro (valor quaternário dessa mesma Terra). Julgavam encontrar Elsa e o Cavaleiro dormindo, para poder matá-los, como lhe ordenara sua esposa Ortruda (traição à corte, para, da mesma se assenhorearem…).
Porém, o Cavaleiro foi mais ágil. Empunhou a sua espada com a qual estendeu sem vida, ao conde e seus quatro companheiros. E conduzindo Elsa para fora do aposento, proferiu as seguintes palavras:
— Está amanhecendo. Preciso falar imediatamente com o rei, vosso pai. Pois, como desejaste, vou revelar o meu segredo, para logo desaparecer do mundo, tal como vim para ele…
E dizendo isto, saiu apressadamente do palácio.
Poucas horas depois, os arautos anunciavam ao povo que se reunissem à margem do rio. O rei e os nobres já se encontravam no lugar, do mesmo modo que os cidadãos ansiosos por saber da notícia que os arautos iam dar ao povo. Ao lado rei, diante da multidão, se achava Elsa, trazendo ainda seu vestido de noiva, porém com o semblante triste e abatido, a ponto de ser notado pelo povo, que também sofria por vê-la desse modo.
— Aí vem o Cavaleiro! Exclamaram diversas vozes.
E as trombetas dos arautos se fazendo ouvir, a multidão abrindo alas para que o Cavaleiro pudesse aproximar-se do palanque onde se achavam o rei, Elsa e toda a sua corte. Ele vinha vestido, do mesmo modo que ao aparecer pela primeira vez no País. Sua grande ESPADA pendia da cinta, do mesmo que o CHIFRE DE OURO (Símbolo de Taurus, signo de Vênus, que faz jus ao iniciático termo “Senhores de Vênus” etc), com o qual havia respondido ao desafio do conde Telramundo (a Voz divina respondendo à voz terrena). A cabeça estava coberta por brilhante elmo, arrematado por duas asas brancas, símbolo do Cavaleiro do Cisne.
Depois de saudar o rei, sua filha e toda a corte, pronuncia ele as seguintes palavras:
— Já sabeis, gracioso rei e Senhor, que a princesa Elsa insistiu comigo para que lhe revelasse, tanto meu nome como a minha pátria. De acordo com a sua exigência, vejo-me obrigado a servi-la. Infelizmente, seu nobre coração deixou-se levar por maus conselhos. E com isso, sou obrigado a regressar ao meu País.
— De nenhum modo, bravo Cavaleiro, respondeu o rei. Amanhã marcharei contra a Alemanha, a fim de combater os húngaros, e preciso de vós como comandante das forças de Ambères, que prometeram auxiliar a minha empresa guerreira.
— Com enorme prazer o faria, respondeu o Cavaleiro, se não fosse o fato de hoje mesmo ter de deixar Ambères para nunca mais voltar…
E então voltando-se para o povo, de modo que todos o ouvissem, exclamou:
— Em um País muito distante, oculto por trás de solitários e secretos caminhos, existe uma CIDADE chamada MONTESALVAT (“o Monte da Salvação” ou Redenção…). Possui Ela um Santuário onde é guardado um dos maiores TESOUROS do mundo, ou seja, um CÁLICE possuidor de maravilhosa virtude (em nosso Templo existe enorme CÁLICE sobre o altar, iluminado por sete mais sete círios. Por trás o excelso Triângulo com o Olho da Divina Providência, melhor dito, do SUPREMO ARQUITETO), pois, todo aquele que puder admira-lo ficará limpo de todos os seus pecados. Foi trazido ao mundo pelos Anjos (ou Devas, como se diz em sânscrito). E cada ano, uma POMBA BRANCA desce do céu para renovar o precioso DOM que o mesmo possui! Seu nome é SANTO GRAAL. E nós outros como seus CAVALEIROS, temos o dever de servi-lo com a maior fidelidade possível. Meu Pai é o Chefe de todos eles. Seu nome é Parsifal. E eu sou LOHENGRIN (Parsi-fal ou Val, vale etc. “o parsi, o sacerdote, o guerreiro, do vale, da Mansão dos deuses”. E Lohengrin, Iohan, chohan, DZYAN, SWEEN ou cisne. E Grim ou JIM, JINA etc.
“O Cavaleiro do Cisne”, o deva, o Jina, mas também o guerreiro celeste, à guisa de um Dhyan-Chohan, Arcanjo etc. Os sete candelabros da Igreja, representam esses mesmos Arcanjos ou Anjos de Presença, que também são os Kumaras etc.).
Um murmúrio de grande surpresa levantou da multidão, porém o rei erguendo o braço ordenou silêncio. Uma vez conseguido, o “Cavaleiro do CISNE” prosseguiu:
— Reparar as injustiças (?), auxiliar os fracos, defender os ignorantes (resta que eles o queiram, completamos…), vencer os perversos (?), esta é a Missão a que os Cavaleiros do Santo GRAAL JURARAM DEDICAR as suas vidas. Porém, ninguém deve conhecer o verdadeiro nome do Cavaleiro que pratica o benefício, porque se revelado for o segredo, o GRAAL não mais exercerá sobre ele a sua benéfica influência. E então, é seu dever voltar imediatamente à sua Pátria, prostando-se novamente diante da santa RELÍQUIA.
Quando deixou de falar, uma exclamação se fez ouvir de todos os lados… Olhai para o horizonte! O cisne branco volta novamente!
E todos voltando para admirar o grande milagre nas águas tranquilas do rio, viram aproximar-se, rapidamente, da sua margem, o barquinho rebocado pelo cisne branco, trazendo em torno do pescoço uma corrente de ouro (como o Fio de ouro ou de Sutra, termo sânscrito que serve de anagrama ao nome do rei ARTUS, com seus Doze Cavaleiros: os Cavaleiros da Távola Redonda, lenda idêntica a de Lohengrin. O fio de ouro sutra é aquele que liga a consciência inferior ou terrena à superior ou divina…
Quando Elsa viu a embarcação, compreendeu – desde logo – que o momento havia chegado para a partida do seu bem-amado. E então, com ele se abraçando e debulhada em lágrimas, dirigiu-lhe a seguinte súplica:
— Deixa-te ficar comigo. Só agora compreendo o mal que te fiz (é sempre assim: tardiamente vem o arrependimento daqueles que veem as coisas apenas… pelo lado pessoal, terreno etc.) Se quiseres ficar para governar este povo, por tal coisa daria a minha vida!
Porém Lohengrin, retirando docemente os braços de Elsa que o rodeavam, respondeu:
— Não me é permitido eleger; devo obedecer ao SANTO GRAAL. Já o devias ter compreendido. Se ao menos, durante um ano tivesses acreditado na minha palavra, teu irmão Godofredo teria voltado para o teu lado. E Então, a tua felicidade seria completa.
Dizendo isto, depositou um beijo de despedida na fronte de Elsa. E quando se dirigiu para o barquinho, Ortruda, que estava oculta entre a multidão, adiantou-se para Elsa olhando-a triunfante. Soltou uma gargalhada, mais animal do que humana. E gritou bem alto para que todos a ouvisse:
— O auxílio do céu, orgulhosa ELSA, de nada te valeu. Agora, sim, posso revelar-te que, aquele cisne branco atrelado ao barquinho que leva para sempre o teu esposo não é outro, senão, o teu irmão Godofredo. Fui eu, ainda, quem o atraiu para o bosque (“a floresta negra da vida”, “a selva selvagem” da Divina Comédia de Dante…) enquanto se encontrava ao teu lado. Fui eu, ainda, quem por arte mágica o transformei em cisne. E deste modo, podes ficar certa que ele continuará até quando eu quiser. Se fiel tivesses sido à tua promessa durante um ano, confiante em teu esposo, meu malefício ficaria anulado, perdendo eu o direito de te causar qualquer outro dano. E triunfante, soltou uma nova gargalhada.
Lohengrin ouvira tudo. Embora sabedor do místico poder do SANTO GRAAL, e portanto, que lhe não era possível vencer a necromântica sorte lançada por ORTRUDA contra Godofredo, ajoelhou-se no chão, pondo-se a orar. No mesmo instante, no cerúleo manto do Firmamento, apareceu uma linda POMBA BRANCA, cercada de uma auréola prateada, que voando veio ter ao seu ombro direito (lado solar de qualquer homem). Daí saltou ao barquinho e metendo o bico entre as penas do pescoço do cisne, desafivelou a corrente que ali se encontrava… E logo, a formosa ave desapareceu para dar lugar a uma figura humana. Era Godofredo, que logo saltando à margem do rio, atirou-se nos braços de sua irmã Elsa, beijando-a com ternura e amor fraternal. Porém, os gritos do povo se faziam sentir:
— Não vás! Permanece conosco!
E o barquinho rebocado pela pomba, que ocupara o lugar do cisne, cada vez mais se afastava da terra. Com as mãos levantadas, Lohengrin fez o sinal da CRUZ, evocando os quatro pontos cardiais, em sinal de perdão e de despedida àqueles que ficavam, para logo desaparecer na vista de todos.
E Elsa dando um grito de desespero, caiu sem sentidos ao solo.
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LOHENGRIN, ARTUS e quantos outros Seres, mais ou menos idênticos, de tempos em tempos, aparecem no mundo (por isso mesmo “incompreendidos” pelos homens vulgares), só podem responder quanto ao seu verdadeiro nome, do seguinte modo: EGO SUM QUI SUM! ”Eu sou quem sou!” E quanto a sua Pátria, tal como o disse Jesus: “Meu Reino não é deste mundo”.
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O Luzeiro, 1953