Lampejos de Sonhos – Selene Campello Queiroz de Souza

Lampejos de Sonhos
Selene Campello Queiroz de Souza

Publicado em O Arauto, publicação da SBE
Departamento do Rio de Janeiro

         Doces vozes inebriantes e perfumes que a alma ouve e aspira quando se lança às suas esferas desconhecidas. Avançai pela vereda dos sonhos, e ouvireis as vozes dos anjos, e vos afastareis dos ruídos da matéria. Sejais as liras dos anjos; sejais uma harpa celeste que um anjo dedilhe. A cabeça raciocina, mas o coração dita. Cultive as letras, mas cultive mais os sentimentos. Nas letras, há muitos espinhos, e atrás delas muita verdade, mas nas obras boas, abundam flores maravilhosas. Minh´alma adormece neste sonho maravilhoso e divino, e despertará num futuro glorioso de paz, amor e fraternidade. Há os que querem o milagre que ilude; eu quero o trabalho que afugenta os vícios, e que demonstra a grandeza de Deus. Querem o maravilhoso, o sobrenatural, e eu quero o simples e o natural.

O ano de 1925 foi marcante para os meus familiares; não posso falar da minha pessoa sem falar de minha família. Eles foram a Ponte e os responsáveis por eu estar na Obra. Minha mãe, ainda solteira, aos 17 anos morava na Rua Barão de Mesquita, no Rio de Janeiro. Meu avô havia morrido, e meu bisavô, o comendador Teles da Silva, havia morrido um ano antes. Foi quando um mensageiro surgiu à nossa porta, dizendo chamar-se Zizufi. Era um senhor moreno, e trazia uma carta endereçada à minha família, convidando-a a comparecer a então “Dhâranâ – Sociedade Mental Espiritualista”, em Niterói. Muitos anos mais tarde, nossa Irmã Zélia, que conhecia este episódio de nossa vida, disse já ter lido uma carta do Mestre onde ele cita o nome Zizufi. Era um Ser que procurava as mônadas que pertenciam à Obra.

Selene Queiroz na pira do templo de São Lourenço, MG.

Selene Queiroz na pira do templo de São Lourenço, MG.

Atendendo ao convite, compareceram meu tio-avô Ananias Teles da Silva, minha mãe (ainda solteira) Carmem Campello Queiroz, e minha tia Yolanda Campello. Todos se surpreenderam com os rituais de Ísis e Osíris, assim como nos outros rituais onde a sacerdotisa era Altair, filha do Prof. Henrique José de Souza. Tais rituais ficaram marcados pelo resto de suas vidas. Helena ficava à parte, assistindo a cerimônia. O ritual era aberto com a oração de São Francisco, a tônica própria da época inicial da Instituição. Minha avó, Judith Campello, por ser católica, e não aceitando a ida dos demais membros da família aos rituais, afastou-os, levando-os para a fazenda Pão de Ouro, de sua propriedade, na estação de Vera Cruz, no Estado do Rio de Janeiro. Levou também um padre de nome Romualdo, para vigiar as meninas. Meu tio, porém, continuou frequentando os rituais, e para elas levava todas as aulas mandadas pelo Prof. Henrique. A leitura dessas aulas, o padre, inclusive, começou a ler, e disse: — Minhas filhas, isto é coisa do demônio! Mas com o tempo acabou sendo catequizado pelas meninas.

Minha mãe, casando-se com Oscar Vasquez, teve meu irmão Eros. Eros não dormia à noite porque ouvia um órgão que tocava às 23 h, acordando-o, e ele aos gritos chamava pelos pais. Um caboclo da fazenda avisou a mamãe que existia um velho na montanha, que era santo e poderia salvar o menino. Minha mãe foi a cavalo até a montanha, onde o velho, sem que ela soubesse, já a estava esperando… Conta ela que ele era lindo. A cabana onde morava era simples e a cama feita de palha de milho. Ele falou para minha mãe o seguinte: — Filha, estava esperando por vocês (minha tia estava junto). Nessa noite elas dormiram na cama de palha e ele passou a noite fora da cabana olhando para a Lua, rezando ou mentalizando, mamãe não soube definir. No dia seguinte falou que ela deveria voltar para o Rio de Janeiro e retornar o trabalho espiritual que havia deixado, pois um Senhor de uma grande espiritualidade (o Prof. Henrique) estava esperando por ela, pois de sua família espiritual só ela estava faltando. Voltando ao Rio, minha mãe procurou a Sociedade, já então Sociedade Teosófica Brasileira. Era o ano 1935. As aulas eram no edifício A Noite, no Centro do Rio. Em 1936 eu nasci.

Quero assinalar que antes de minha mãe ir para a fazenda Pão de Ouro (Dhâranâ fala sobre esta fazenda), como despedida o Professor Henrique fez questão de escrever num livro dela a seguinte frase: “A maior das virtudes está no silêncio. Busque conversar consigo mesmo e decifrarás o grande enigma da Vida! Assinado: Henrique José de Souza, 27 de Setembro de 1927, Nictheroy”.

A respeito do meu tio Ananias Telles da Silva, consultando outro dia as Cartas do nosso Mestre, encontrei uma fala que sobre ele. Dizia o seguinte: “Que dizer ainda dos que se foram deixando saudade e tristonha lacuna… Em nosso meio Ananias Telles da Silva, cuja inicial, trocando a posição das letras nos dá o prodigioso SAT, deixou-nos cedo. Cultura não alcançou para ter plena consciência do lugar aonde ia e quanto fez na face da Terra. Caráter não lhe faltou para ser digno de tão excelsa Obra. Hoje deve saber muito mais pelo direito facultado de ir e voltar “sem cair”, como acontecia nos seus últimos dias, naquele tabuleiro de xadrez, apontado por Bey-Al-Bordi, chamando-o compadre Tristão. Salve Ananias, hoje aqui presente, gozando conosco da apoteose final da parte esotérica de nossa Obra”. Em seguida o Mestre cita as palavras de Ananias: “Do profundo abismo clamei a Vós, meu Senhor! E meu espírito se alegrou em Deus meu Salvador”. Ananias recebeu do Prof. Henrique um anel, o qual deveria ser usado enquanto vivesse. Conta o nosso Mestre que um dia, ao tomar banho, viu saltitante na banheira aparecer o anel que havia dado a Ananias. Logo em seguida o Professor gritou para Dona Helena: “Ananias faleceu! O anel foi devolvido!”

Em 1942, chegamos a São Lourenço com a seguinte comitiva: o Prof. Henrique, Dona Helena, Hélio, Selene e Jefferson (este com dois meses), Oscar Queiroz, meu pai, Carmem Queiroz, minha mãe, eu e meus dois irmãos, Eros e Maurus. Saltando na estação de Cruzeiro, a espera era interminável. Tivemos que esperar o trem que vinha de São Lourenço. Foi um tormento… Calor infernal. O Professor reclamando que estava com “o cruzeiro às costas”, e eu, como sempre, brigando com o Hélio, enquanto o Professor gritava conosco que já estava sofrendo demais. O trem quando chegava vinha sempre cheio, e então papai nos jogava pela janela. Eu, mais pesada que o Hélio caía em cima dele e nos atracávamos. Chegamos a São Lourenço às 11 h da noite. Foi daí que começou a minha parte espiritual com o meu Mestre.

Assisti a muitos combates contra o Professor. O vi chorar várias vezes, sendo que uma delas o vi chorar na cadeira. Senti tanta pena que perguntei (tinha 5 anos) o que poderia fazer por ele. Ele respondeu: “Filha, nada podes fazer por mim. Somente te peço que leves o teu sorriso e a tua alegria a todos os membros da Sociedade, pois virá um dia em que ninguém terá vontade de sorrir. Só o teu sorriso atenuará”.

Eu percebia que ele fazia questão de que tudo que se passasse com ele eu mentalmente guardasse. Certa vez, às 18 h, e nessa época se ouvia a Ave-Maria vinda da Igreja, fui levar o jantar do Professor e penso que ele não percebeu a minha presença. Ele olhava para a parede e eu o vi subindo… O olhar dele era de completo êxtase; foi quando ouvi a frase que hoje todos conhecem, mas que pela primeira vez ele citava: “Ave Maria. Hora de Paz e de Harmonia. Hora da Santa Eucaristia. Hora de Esplendor e de Gala. Hora de Agartha e Shamballah”. Mais tarde vim saber que nessas horas o Graal lhe aparecia e Nele se fundia. Eu era criança, mas sentia todo o ambiente, tudo que se passava ao meu redor e onde eu me encontrava.

Os rituais nessa época eram feitos à meia-noite no porão da Vila Helena. Eu e meus irmãos e os filhos do Professor não frenquentávamos porque éramos crianças. Ficávamos em casa com a empregada. Um dia o professor falou para a mamãe que ela devia nos levar aos rituais porque nossa casa estava sendo muito visitada pelas forças contrárias, que no momento estavam atuando fortemente na Vila Helena. Nessa mesma noite, estando eu e meu irmão Eros, sozinhos, na sala de nossa casa, esperando pela volta da mamãe, bateram na nossa porta… Uma voz cavernosa falou que abríssemos, pois era ordem de minha mãe nos levar embora. A empregada, que dormia em baixo do sótão, veio correndo, e olhando para a varanda, viu dois homens com capa preta e chapéu enterrado na cabeça. Ela então gritou: “Saiam daqui, demônios!” E telefonou imediatamente para a Vila Helena. O Professor imediatamente mandou que papai nos apanhasse, e que doravante deveríamos passar a assistir aos rituais. Esses rituais eram terríveis, pois a face sombria do Opositor se manifestava, dando gritos e gargalhadas tremendas. Era o tempo da 2ª Guerra Mundial… Não posso lembrar do que falavam porque éramos muito pequenos.

Eu, meus irmãos e os filhos do Mestre, brincávamos na Vila Helena, e o Professor Henrique ficava rindo, pois “via” os Gnomos roubarem nossos brinquedos e dar piparotes em nossas cabeças.

Certa vez, ainda na mesma casa onde morávamos, ao abrir a janela pela manhã, mamãe viu um mendigo sentado do outro lado da calçada, no muro do Hotel Sul América de São Lourenço. Ela ficou com dó e foi então levar alguns trocados para ele e comida. Lá chegando, o mendigo balançou a cabeça negando a oferta. Mamãe ficou espantada. Era o homem mais lindo que havia visto. Louro, cabelos compridos, olhos de um azul profundo. Impressionada, narrou o fato ao Professor Henrique, que lhe disse: “Dona Carmem, como a senhora vai dar comida e dinheiro para um Adepto? Eu o coloquei lá para que vigiasse a sua casa e seus filhos, pois os dois são necessários à Obra”. E disse outras coisas mais que não convém mencionar aqui.

O ritual mais importante para mim, que assisti, foi a da despedida de

Adamita, cujo corpo estava para ser reduzido a cinzas. O Professor e a primeira Helena se encontraram por intermédio do corpo da segunda Helena. Abraçaram-se e choraram… Ela falava em agartino se despedindo dele. Ele, chorando, falava às vezes em agartino e às vezes em português. Foi uma cena muito comovente para mim. Passei semanas chorando, pensando como a parte espiritual se sacrifica por nós, que somos cheios de defeitos, ambições e vaidade. Senti-me tão pequena… diante do grandioso ritual que assisti…

Numerar os rituais que assisti é impossível, pois estava sempre ao lado do Mestre. Apesar de criança, eu preferia estar ao lado dele, mais do que brincar. A parte que agora vou contar farei por alto, porque foram rituais que o Mestre não queria que se comentasse a respeito. Foram feitos comigo durante sete dias, dentro do Templo. Ele me preparava para ser sacerdotisa do Templo. Certa vez minha mãe agradeceu por ele estar fazendo aquilo tudo por mim. Ele então respondeu: “Não agradeça, minha irmã. Foi o próprio Ego dela que assim o exigiu”. Mas eu, devido a pouca idade (12 anos), não compreendi e nem soube valorizar. Exerci por um tempo essa função, tanto que tem uma revista Dhâranâ com minha foto na Pira.

Houve um ritual na então Sede da Rua Buenos Aires, no Rio de Janeiro, que embora comum como tantos outros, quando terminou eu senti no ar que alguma coisa diferente ia acontecer. Eu devia ter uns 16 anos. Os Irmãos já estavam saindo, quando observamos que o Professor Henrique não saía do Panteon. Formou-se então um silêncio. Olhamos todos para ele: dele surgiu uma Luz em seu peito da cor de vinho rosê. Ele estava num estado, pode-se dizer, Crístico… Durante alguns minutos não se ouvia um respirar na sala. Segundos se passaram e ele voltou a si como se tivesse vindo de muito longe… Foi uma noite inesquecível.

Minha mãe, fazendo as iogas em casa em frente à imagem de Buda, pertencente à nossa família, um dia teve uma visão: era um Ser lindo, cabelos castanho-avermelhados, olhos verdes amendoados, com um perfil perfeito quando virou o rosto. Mas ela estranhou o seu olhar… Era um olhar matreiro… Contando ao Professor sua visão, ele deu a entender o seguinte: “Este é o Quinto. Todos os Irmãos que tiverem alguma vidência de Seres elevados, observem bem algum sinal que possa demonstrar a hierarquia a que pertencem. A senhora observou pelos olhos”.

Estávamos eu e minha família num ritual à Rua Buenos Aires: eu como sacerdotisa, e Vera ao meu lado, quando o Prof. Henrique, olhando para mim com olhos de uma luminosidade branca, disse-me: “Menina, coloque sua mão no fogo sagrado”. Eu, com medo, relutei. Vera então falou: “Faça o que ele mandou”. Coloquei então a mão dentro da Pira, e nesse mesmo instante uma língua de fogo se levantou e se enroscou em todo o meu braço, indo até o ombro. Levei um grande susto, mas o fogo não me queimou e nem senti dor, apenas o susto. Comecei a chorar, e ele então falou: “Por que choras, menina? Foi uma coisa maravilhosa! Foram as Salamandras que vieram te saudar”.

O alerta de Dona Helena sobre a “vigilância dos sentidos” que todos devemos ter, devo dizer que os Irmãos do passado, pessoas que tiveram grande estirpe e inteligência, erraram por não terem essa vigilância, achando que só o conhecimento iria salvá-los dos perigos da carne e das armadilhas do mundo. Alguns inclusive deixaram uma lacuna imensa dentro da Sociedade, que o Professor tentou suavizar. Durmo e acordo pensando no conselho que nossa Mãe nos deixou.

O Professor Henrique pedia que todos nós fizéssemos um diário do dia que passou, a fim de que nos arrependêssemos dos erros cometidos e não viéssemos a recair neles. Tempos mais tarde, quando minha mãe morreu, ela me apareceu e disse: “O sofrimento da morte é um filme que passa; você se julga a si mesmo com uma intensidade muito grande. Os menores erros que cometemos na face da Terra, ao lado de cá são somados na mesma proporção dos grandes”. Então eu compreendi que aquela intimação do Professor, de fazer o diário do dia, era para que suavizássemos o nosso próprio julgamento pós-morte.

Assisti ao ritual em que Maitreia deixou gravado no tapete as marcas dos seus pezinhos. Eu estava bem perto, e vi como os seus pezinhos amassavam e deixavam a marca, provavelmente de talco, no tapete do Templo, até chegar em frente a estátua de Buda, aquela que se encontra no Museu do Templo. Nesse dia o Mestre teve uma grande decepção, porque alguns Irmãos, que nada conseguiram ver nem sentir internamente, disseram ter sido tudo uma farsa…

Sobre minha tia Yolanda Campello, como todas as pessoas de valor, foi perseguida dentro da própria Instituição. Ela se revoltou tanto, que acabou escrevendo uma carta de despedida para o Prof. Henrique: uma carta original, feita toda em desenhos à aquarela. Numa das figuras, não posso esquecer: colocou uma relva, e nela uma pedra grande. Saindo de cima da pedra uma grande luz, e acima da luz um sapo… A luz perguntava: — Por que me abafas? E o sapo respondeu: — Porque brilhas. O Professor imediatamente entendeu a carta por inteiro, que nada tinha de escrito em letras. Telefonando para ela, deu-lhe total apoio, e disse-lhe que ela era uma das Irmãs queridas da Obra. Ficara pesaroso. Tia Yolanda era uma criatura estranha, pouco falava, mas extremamente dedicada aos assuntos espiritualistas, e o foi até morrer. Foi mal interpretada pelos Irmãos e pela própria família. Eu e ela tínhamos uma simbiose muito grande, pois eu tinha meus sonhos e ela captava, pois os desenhava sem saber que eu os tivera. Certo dia, em São Lourenço, lendo uma Carta do Mestre, não consegui entender o conteúdo da mesma. Deitada em minha casa, perguntei à minha tia Yolanda, em pensamento, se ela me poderia dar a resposta. Nada recebi e fiquei decepcionada. No outro dia, Vera encontrou-se comigo e disse que mamãe estava me procurando; havia telefonado do Rio, dizendo que tia Yolanda me viu fazendo umas perguntas, mas não conseguira entender. Que eu telefonasse para ela explicando para dar a resposta.

Tia Yolanda, como artista e como escritora, escreveu 22 livros maravilhosos, todos feitos a mão, em papel criado por ela mesma e as capas também. São livros gigantes, dignos de figurar no Museu de nosso Templo, se assim pudesse ter acontecido. O Prof. Henrique, lendo as vidas passadas, disse que ela não era mulher, e sim um homem, um Adepto caído por vaidade. Nesta vida, ela com medo que de novo acontecesse, escondeu-se o máximo que pôde.

Em 1942, quando morávamos em São Lourenço, o Professor Henrique e Dona Helena tinham o hábito de visitar alguns Irmãos na parte da manhã. Um dia chegaram bem cedinho em nossa casa, vindos de charrete, ele vestido de branco e ela também de branco com um guarda-sol japonês. Existia em nossa sala de jantar uma cristaleira na qual estava apoiado na parede um quadro a óleo pintado pela tia Yolanda, representando a lenda do Moiraquitã, que é a pedra da felicidade. A pintura mostrava um índio achando essa pedra no meio da mata. Na frente do quadro estava um garrafão de vinho tinto que mamãe guardava para oferecer às visitas. Quando o Professor e Dona Helena estavam chegando e chamando por mamãe já na entrada do portão, o quadro resvalou e o garrafão caiu ao chão quebrando e derramando todo o vinho. Mamãe se apressou em limpar o chão antes que eles entrassem, mas não deu tempo, o Professor e Dona Helena já estavam entrando na sala e mamãe surpreendeu-se ao vê-los entrarem rindo, e o Professor dizendo: “Ela está tão preocupada em fazer a limpeza e no entanto é uma homenagem que o índio fez aos Gêmeos”.

Quando o Professor se reunia na Vila Helena com os Irmãos, aqueles que ficassem por mais tempo, ele começava a dar revelações. Sabendo disso, eu e minha tia Yolanda ficávamos por último, na expectativa… Uma dessas noites o Professor materializou um livro onde tinha as fotos de vários Seres dos mundos interiores. Mostrou-as com a intenção de minha tia copiar as imagens. Ela olhou o livro demoradamente, e indo para casa pintou alguns dos seus personagens: ficou lindo. Dias depois mostrou ao Professor, que rindo admirou-se da facilidade de memorização da pintora.

Um fato muito engraçado, que mostra a inconveniência das crianças, aconteceu quando eu tinha 6 anos. Havia um pé de cajueiro em nossa casa que não dava caju algum. Um dia minha gatinha morreu e eu fiz o enterro dela com flores e enterrei-a aos pés do cajueiro. Por coincidência ou não, nesse ano o pé deu cajus aos montes. Eu, lembrando sempre que o Professor falava saudoso dos cajus da Bahia, enrolei uns três ou quatro em papel fino e levei de presente para ele. Todo risonho, ele agradeceu a minha gentileza e eu então disse: — É Professor, o meu cajueiro não dava caju, mas depois que eu enterrei a minha gatinha em baixo dele, ficou formoso. O professor ficou apavorado, levou os cajus para a cozinha e lá sumiu com eles.

Sobre a medalha que uso no Templo, e que tem sido para mim motivo de alguns aborrecimentos, em virtude de observações inadequadas, sua existência deve-se a um sonho. Ainda menina, sonhei que atrás do Templo, olhando o céu, este se abriu e eu vi o símbolo da verdadeira Rosa-Cruz, todo feito de estrelas, sendo que uma delas, a do centro, era de cor rubi, emitindo uma luz que veio bater em meu coração… E eu levitei, subi… Dois dias depois, indo à Sede na Rua Buenos Aires, lá estava o Professor. Quando cheguei ele deu um pulo da cadeira e disse: “Menina, você tem que usar uma medalha da Rosa-Cruz, em prata e ouro”. Assim foi feito por ordem dele, à Vera, nossa sacerdotisa, que nessa época era quem fazia todas as medalhas. Para receber essa medalha passei por vários rituais, ele sempre dizendo que eu a usasse para o resto de minha vida.

Os rituais daquela época eram diferentes; não eram personalizados, e  sim em nome do Supremo Arquiteto do Universo. Só a Ele dedicado. Maitreia, este glorioso Ser, pode acontecer de vir ou não em corpo físico, quem sabe numa mudança de estado de consciência de todos, que seria o ideal para Ele.

Uma das coisas boas que aconteceu na minha vida, por intermédio do Professor Henrique, foi numa época em que eu passava por uma fase muito difícil, sofria muito, não sabia como resolver minha situação. Indo a São Lourenço, fui ao Templo, e na volta a minha angústia tornou-se ainda maior. Eu estava hospedada na casa da Irmã Lourdes Pizarro, no bairro São Lourenço Velho. Ao passar pelo Parque das Águas, dei um grito de angústia chamando pelo Professor e dizendo-lhe: “Não me ajuda porque não sou sua filha!” Aquele desabafo me deixou mais calma. Tempos depois, encontrei Célio, meu atual marido. Casei-me e tenho sido muito feliz até hoje. É um homem boníssimo e íntegro. É como se o Professor dissesse: “Pronto. Tu és minha filha”. Sinto que foi ele devido ao nome de Célio ser Célio José de Souza, o do pai dele, por incrível que pareça, Henrique José de Souza, e o irmão Hélio José de Souza. É muita coincidência.

Minha vida não se resume só no que narrei, há muitos fatos interessantes que presenciei, mas seria abusar do espaço da matéria e cansar o leitor. Mas gostaria de dizer: Irmãos! Não permitam que este Trabalho maravilhoso dos Gêmeos Espirituais seja deturpado pela vaidade e pela intolerância. Mantenham este elo que une o passado ao futuro. Sonho. Magia. Conhecimento. Esta Obra foi fundada com sacrifício de muitos. Os Irmãos do passado cumpriram seu dever: agora são vocês os depositários desta responsabilidade: levar avante a Palavra do nosso Mestre.

___________

São Lourenço, 12 de outubro de 2003

Nota: A equipe de O Arauto, boletim do Departamento da SBE, do Rio de Janeiro, pediu à Irmã Selene Campello Queiroz de Souza, que escrevesse suas memórias com o Prof. Henrique José de Souza. Comentando a respeito com a Irmã Zélia Scorza Pires, esta a animou e se ofereceu para, se ela quisesse, digitaria na medida em que fosse narrando. Daí surgiu este importante depoimento.

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