ENTRAVE ENTRE A JUSTIÇA E A IMPUNIDADE

Um dia a Justiça, cansada de polemizar e ser passada para trás pela Impunidade, resolveu fazer um apelo aos homens. Do jeito que as coisas estavam não tinha mais sentido ela continuar na Terra… Simbolizada numa figura feminina e portando a Espada da Lei, era difícil para ela executar seu trabalho, ainda mais com aquela incômoda venda nos olhos…

A Impunidade, antiga adversária sua, ajudada por outras iguais a ela, tomara o seu lugar… Mas a Justiça ainda mantinha um lastro de esperança… Por isso ela resolveu sair em busca de um povo bom e pacífico com que pudesse trabalhar, caso no mundo existisse um povo assim. Procurou, procurou, e finalmente encontrou: achou o Povo Brasileiro… Incrível, mas foi quando o seu infortúnio aumentou ainda mais, pois sempre que tentava ser justa, a Impunidade se antepunha, e, desacreditando a Verdade, vencia ludibriando a Lei. Os defensores dos culpados, por sua vez, também transgrediam a Lei. A Justiça então, tão bem representada num corpo de Mulher, antes esguio e forte, tornou-se envelhecida e curvada… Não suportou o peso da desmoralização… Aviltada, pensou em retirar-se, sumir daquele País em que tanto confiara… Afastar-se, pois não mais tinha voz e nem vez…  

Foi justamente nessa hora que ela ouviu uma Voz vibrante a qual não pôde resistir e que lhe disse: — Não faça isto! Não esmoreça! Sem ti o que será deste povo amado e sofrido? Não! Ergue-te, Justiça! Arranca a venda dos olhos! Empunha a tua Espada e luta! Afasta os corruptos! Ataca de frente os interesseiros! Encara os intrigantes! Enfrenta os mentirosos! Olha sem medo os maledicentes! Encara tudo com firmeza! Porque Eu, como Senhor de Todos os Poderes, vejo tudo, vigio tudo, e anoto tudo! Nada me escapa! Não deixarei que esta situação calamitosa continue! Poucos neste País grandioso conhecem os projetos gloriosos que já realizei! Levanta! Ergue teu punho e enfrenta as perturbações! O solo abençoado do Brasil sempre acolheu as várias etnias de que se compõe “a Grande Família Universal”. O brasileiro é generoso e talentoso. Este País “já ouviu o canto mavioso das aves canoras, a segredar-lhe internamente amor a todos os seres”. Um dia ele novamente ouvirá esse Canto abençoado! Forças contrárias e vacilantes não mais terão vez! São muitos os que trabalham para que Meus Planos não se realizem, mas pagarão caro por isso quando Eu erguer Minha Mão! Homens públicos da Nação Brasileira! Amem a terra em que nasceram! Não provoquem Minha Ira! Avante, Justiça! Se necessário intervirei com a Força do Povo, caso a Justiça terrena não cumpra a digna função que lhe cabe!

Depois desta Voz a Justiça criou alma nova. A primeira coisa que ela fez foi dar um bom supapo na Impunidade, derrubando-a do trono que havia usurpado e ultrajado. Em seguida a Justiça retirou a venda dos olhos, ergueu sua Espada, e caminhou resoluta por todo o território brasileiro! Orgulhosa de sua missão, a Justiça nunca mais permitiu que a impedissem de valer o seu direito!

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Zélia Scorza Pires, S. Lourenço, 21.09.2007

Publicado no jornal Integre-se – da SBE

Publicado em setembro de 2012 no Arte Real, da Maçonaria

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