ILDA ESTER BATORÉU
(Bibi)
Conheci Bibi em 1970 apenas superficialmente. Somente em 1979 iniciamos uma construtiva amizade que se conservou até o final de sua existência. Um dia ela revelou-me que recebia mensagens… Como ambas pertencíamos ao mesmo Colégio Iniciático, sugeri que passássemos a anotá-las, pois me confidenciara que num dia de forte desalento, queimara a maior parte delas por causa do descrédito das pessoas. Sentia-se uma pitonisa desacreditada.
Passei então a datilografar as mensagens. A letra de Bibi parecia um bordado de tão bonita, mas nada fácil de entender. Eu então datilografava e dava para ela conferir se estava tudo correto e em seguida devolvia-lhe os originais. Mais tarde, respeitando sua avançada idade e para não cansá-la, muitas vezes eu mesma anotava o que ela me contava. Fazia-o com extremo cuidado, dando em seguida para ela ler e só então datilografava.
Houve mensagens que apenas contava, não queria que anotasse. Tinha suas razões. Algumas verdades desagradando, poderiam se voltar contra ela mesma, que apenas era um receptáculo… Bibi não alardeava seus dons nem seu talento de poetisa e invulgar memória. De excelente coração, uma honradez impecável, tinha uma vivência extraordinária, fruto naturalmente de uma longa e rica bagagem espiritual.
Segundo ela, quando essa capacidade extrasensorial “brotou”, tinha esperança que houvesse entendimento por parte daqueles que delas precisavam tomar conhecimento. Não foi o que aconteceu. Sequer houve diálogo a respeito. Um comportamento assim qualquer um desanimaria. Nosso interesse em destacar suas poesias e textos em prosa, é a forma de agradecer esta amizade sólida que nos uniu até 2010, quando então Bibi, aos 106 anos de idade, deixou o mundo dos mortais para ir ao encontro Daquele que lhe dera a missão que ela disse não ter podido concluir.
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Zélia Scorza Pires
São Lourenço, 03.02.2015