A Sociedade Teosófica Brasileira, a Política e a Criança.
Eymar da Cunha Franco – Dhâranâ nº 1/2 – março a junho de 1957
Senhores Convencionais, Meus Irmãos:
Apesar do título deste despretensioso trabalho dar a ideia unitária, em verdade são dois os aspectos do que desejamos focalizar no mesmo ou seja a S.T.B. e a política e a S.T.B. e a criança.
Reunidos para debater assuntos de grande transcendência para nossa Instituição e para o Brasil, devemos, no meu entender, ser extremamente práticos, positivos e sinceros, evitando cansar aqueles que nos ouvem com tão boa vontade. Desse modo, sem nenhum preâmbulo, entraremos diretamente no assunto, pedindo apenas como Shakespeare “paciência para ouvir e bondade para julgar”.
Começaremos por entrar em considerações em torno da posição da S.T.B., face à política nacional em todas as esferas. Nossos estatutos são claros e precisos – não se admite a política partidária no seio da S.T.B. ao lado de nenhum partido político, nem permitirá que seus membros tragam para dentro dela a malfadada política partidária. Somente aplausos merece esse artigo estatutário. Mas, perguntamos: poderá a S.T.B. com o propósito que tem, de lutar pelo soerguimento físico, moral, intelectual e espiritual do Povo Brasileiro, ficar inteiramente indiferente ao que se passa no setor político, apreciando, de braços cruzados, as mais vergonhosas barganhas, as mais aviltantes candidaturas, as mais cínicas mentiras serem impingidas ao povo por candidatos comprovadamente desonestos?
Deverá a S.T.B. deixar que seus membros em particular, sejam levados no roldão incoerente de uma politicalha rasteira e sórdida, sem ao menos dizer uma palavra de repulsa, sem um protesto, sem um gesto que ateste que possuímos uma consciência lúcida, que temos independência mental, que não estamos apoiando silenciosamente tudo o que se faz contra o Brasil, contra o Homem, contra a Evolução?
Haverá quem advogue o princípio de deixar que as coisas continuem correndo como vem sucedendo? Deveremos deixar que nos incluam no rol das coisas nulas, ou devemos erguer a nossa voz, firmar nosso conceito, pugnar por algo melhor? Tenho certeza que não há entre os presentes nenhuma voz que possa aconselhar-nos o indiferentismo, a apatia, o silêncio. Não acredito que alguém que possua uma chama de amor pela Obra, pelo Brasil e pelo seu povo, possa aconselhar-nos a sermos apenas os caudatários de qualquer grupo, os acompanhantes de qualquer nome, cujo passado não possa ser examinado pelo critério de homens de bem.
Chego ao ponto de dizer que a S.T.B. deve ter a coragem de vir de público, se necessário for, e dizer que seus membros votarão em branco, mas não sufragarão um nome que esteja conforme com seus ideais, com suas diretrizes, com suas aspirações.
Alguém poderia contestar-nos que essa é uma tarefa inerente a cada indivíduo de “per si” e que a S.T.B. estaria nesse caso interferindo na liberdade de consciência de seus membros. Que os componentes da Instituição, imbuídos de suas ideias, de seu programa, de suas aspirações, naturalmente agiriam isoladamente, de acordo com essas mesmas diretrizes, se é que são coerentes com elas, tendo apenas a Obra o papel inspirador e estimulador. A esses responderemos que embora a ideia seja sensata uma vez que colocaria a S.T.B. numa situação sedutoramente cômoda, mas que em compensação a deixaria inexpressiva como um todo, como um organismo, como uma Sociedade cujos membros agiriam harmonicamente, solidariamente, como uma força indivisível e concreta.
Entendo que a S.T.B. deve debater em torno dos nomes dos futuros candidatos. Entendo que uma assembléia deve examinar os nomes que estiverem em evidência em pleitos vindouros, investigando tanto quanto possível, o passado e o presente dos mesmos. A sua atuação em relação aos problemas nacionais etc.
Entendo que a S.T.B. deve ir ao ponto de encaminhar aos candidatos a cargos eletivos, como Presidente da República, Governadores e Prefeitos (estes nas localidades onde houver uma Instituição filiada) um questionário contendo algumas perguntas, organizadas pela Diretoria Social e com a supervisão de nosso Supremo Dirigente, sobre assuntos da maior relevância para o Brasil e para a Obra. Uma vez de posse das respostas, a S.T.B., em uma assembléia geral, examinaria as mesmas e depois então se pronunciaria, recomendando a seus membros, o candidato que estivesse mais afim com os nossos objetivos e programa. Com essa simples medida teríamos dado um passo decisivo para a estruturação de uma consciência política dentro da S.T.B., sem qualquer partidarismo, sem qualquer ingerência de grupos etc.
Os membros as S.T.B. que militam neste ou naquele partido, continuarão lá fora com suas atividades. Nada violará a liberdade de pensamento dos mesmos, uma vez que a Instituição não impõem candidatos, apenas recomenda o que estiver mais apto para servir nossa Causa, servindo ao Brasil. Nas últimas eleições presidenciais, constatamos penalizados que estava faltando dentro da S.T.B. esta orientação que sugerimos no momento. Constatamos que a maior parte de nossos Irmãos sentiam falta de um pleno esclarecimento naquele sentido.
Em nossa humilde opinião deveremos adotar uma solução para o problema. Se não for a que sugerimos, que seja outra que tenha o mesmo caráter objetivo, prático e orientador, mas que se adote algo para o futuro, nesse sentido.
Aos senhores convencionais compete o debate desta tese e a sua aceitação ou recusa.