ECC HOMO! ECCE HOMO! “Eis aqui o Homem!” gemia, mais que suplicava Pilatos, a favor do “Filho do Homem”. Ele que, amigo era do Grande MÁRTIR ali representando todo o Carma da Humanidade! Sim, mais que amigo, se primo era, e da secreta Missão algo sabia, mas que devia calar numa hora em que estavam em choque os Dois Poderes: o Espiritual e o Temporal, mas este reinando falsamente na Terra. Era preciso derrubá-lo, a fim de que ROMA fosse, ao mesmo tempo, a Capital espiritual e temporal do mundo. E dali saísse a ideia redentora de uma grande REPÚBLICA UNIDA, no continente que havia de ser descoberto, mais tarde, por um Filho da AGARTHA, sucedido por um outro da mesma estirpe… Mas que, por desgraça falhou, devido uma traição… em que certa mulher de índole perversa, a Judas se ligou para derrubar aos DOIS IRMÃOS restavam de uma TRÍADE SUPERIOR, que à Terra viera para a realização de tamanho MISTÉRIO!…
ECCE HOMO! ECCE HOMO! Continuava a exclamar Pilatos em defesa do Mestre. E a turba ignorante e perversa, fustigada pelos sacerdotes “inimigos do Profeta” que desconfiavam do Movimento, ao mesmo tempo político e religioso – vociferava de modo inclemente: “À morte, o Impostor! Ponham-No no Lugar de Barrabás, que vale mais que Ele!” E o sussurro aumentava cada vez mais, como se fora o uivar das feras nos circos romanos! E isto, de permeio com um gargalhar satânico que vinha do seio da Terra!… Que se comprazia com aquela CENA, pois via, no “Filho do Homem” a encarnação da própria Divindade. Mas ninguém pressentia “a infernal gargalhada”, a não serem os poucos versados no Mistério, inclusive Aqueles que ao Cristo acompanhavam… Sim, DAEMON EST DEUS INVERSUS!
Novas vergastadas, novos suplícios, novos horrores! A Divindade ali estava com uma falsa coroa! “coroa de espinhos”, como se fora o próprio VISVAKARMAN com seus TRINTA E DOIS RAIOS! A capa vermelha ou tamásica, da Terra; uma cana por cetro… Novo gargalhar satânico fazia abalar os alicerces da Terra. Mas o tilintar das armas, indicava a hora da partida para o Calvário!…
E Ele, com a cruz ao ombro – MARTE e MÁRTIR, ao mesmo tempo, era o Cordeiro de Deus, que viera tirar os pecados do mundo! “Agnus Dei qui tollis peccata mundi!” Sim, a CRUZ da Terra, o manto encarnado de MARTE, o cetro de JÚPITER. Mãe que de perto chora, VÊNUS. Um Pai desaparecido na penumbra do Mistério, MERCÚRIO. Contando o tempo que passa – “grão por grão de areia”, na ampulheta da Evolução Humana, SATURNO ou CRONOS! Finalmente, Dois Devas representando SOL e LUA, como Colunas, acompanha, das nuvens, o Divino Avatara!
Sim, uns choram, outros riem. E até na face Lhe cospem, quando não O massacram à pedradas. “Olhem, olhem! dizem alguns. Ali vai o IMPOSTOR, o embusteiro, o chantagista… aquele que quer passar “por nosso rei”, – REX JUDEORUM. Mais que isto, destronador de JÚPITER!” E as gargalhadas se misturavam com as lágrimas, com o choro das mulheres, e de amigos dedicados. A guarda procurava conter os que mais se aproximavam do Único Personagem da Tragédia, naquele lugar, porque, os Dois outros na montanha já estavam… José de Arimatéia e Nicodemus, fingindo-se auxiliares do fúnebre cortejo – pois que era o de um Vivo-Morto, mil vezes ressuscitado para galgar o cume da Montanha… permutavam-se na “carga do Cruzeiro”. Sofriam duplamente, pois que, também banhados em suor estavam, e o coração vertia sangue ao ver o Mestre suportar tamanhas dores!
Continuavam chorando as mulheres, contra as quais muitos se revoltavam, uivando como feras: “Parem com essas lágrimas fingidas! O que vocês choram não é o santo, mas apenas o homem, víboras peçonhentas e traiçoeiras“. Jesus, compadecido pela afronta à pureza espiritual daquelas Mães, daquelas Mulheres seguidoras fiéis de MARIA, procura animá-las. Suas palavras levadas pelo vento, só agora chegam aos ouvidos dos homens:
“Ó filhas de Jerusalém!
Não choreis a minha sorte,
Se os vossos peitos comovo,
Chorai a sorte de um povo
Que morre com a minha MORTE”.
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Sim, e quantos vieram a morrer, carmicamente, por tamanha afronta, por tamanha injustiça?
Nesta mesma vida, digamos, neste “Fim de ciclo apodrecido e gasto”, 2000 anos já passados, muitos dos que O apuparam, dos que O maltrataram, foram vistos como JUDAS TRAIDORES, enforcados na trave de uma porta, a guisa de figueira cármica, para não chamar de “maldita”. Outros, como uma mulher – talvez aquela que insuflou a “traição ao lado de Judas” – atirando-se às chamas de uma fogueira, aterrorizada com a visão que de há muito a perseguia: “Cristo a cair e levantar, banhado em suores frios, todo ensanguentado, a tela viva do MARTÍRIO!” “Uma outra, balouçando, também, de um caibro da cobertura de certo lugar, idêntico à velha podridão que a consumia… Vestes rasgadas, pernas estendidas no espaço, olhos esgaseados, saltando das órbitas! Era um quadro, ao mesmo tempo, tétrico e satânico!” “Acolá – tudo isso em épocas diferentes – “um homem despedaçado pelas rodas de um trem, nas vascas da agonia”. Antes de exalar o último suspiro, o Cristo vê a seu lado, animando-o, encorajando-o a transpor a dolorosa muralha que separa um mundo de outro…” Sim, o perdão, a Bondade do Homem Compassivo, em troca do Ódio, da injustiça do passado! Muitos desses quadros horríveis teve ocasião de ver alguém que, pelo Mártir do Calvário chorou na Hora da Tragédia. Do mesmo modo que poucos não foram aqueles que ouviram esse “alguém” contar todas essas coisas quando lhe perguntamos: “Quantas pessoas enforcadas e acidentadas tivestes ocasião de ver nesta vida?…”
Seria, pois, impossível citar a aluvião de fatos que se prendem à semelhante Tragédia. Basta o de 432.000 cabeças que rolaram na guilhotina… quando da Revolução Francesa. LILIUM PEDIBUS DESTRUE! Sim, a Flor de Lis dos Bourbons foi pisada, foi aniquilada, por ser “o falso Lírio do brejo”, em vez do Loto das Mil Pétalas, o Loto Sagrado de Shamballah! do qual o Cristo foi um deles! Hoje o exaltam as mesmas iniciais cantando o LAUDATE PUERI DOMINE!
Sim, Cristo, Buda, Maitreia, Mitra-Deva, Apavanadeva, são Nomes que se confundem! São Nomes que ao Mundo redimem!
Longe de nós queremos passar por qualquer deles! Defendê-los, sim, defendendo a própria Divindade expressa em nossa Obra, pois foi Ela quem no-la entregou no Alto de uma Montanha, Montanha que pode ainda, tornar-se igual à do CALVÁRIO! Tal Missão levaremos até a Morte, custe o que custar…
SEMENTE DOS AVATARAS! Árvore dos Kumaras! O VAU, a PONTE que separa o Mundo Divino do Terreno. E como tal, o Enigma, a Esfinge, “o maior dos absurdos”, isto sim, que somos! De fato, EGO SUM QUI SUM!
Que Deus guarde o “Rei” – mesmo que mendigo e doente! Que Deus guarde a sua Corte! Vassalos, soldados, o próprio POVO… na iminência de se “levantar em vagas monstruosas” – aqui, ali, acolá, no mundo inteiro, querendo vencer o karma do passado. Mistério oculto daquela e de tantas outras tragédias, de que a vida humana está repleta!
Sim, que a PAZ se faça para todos os seres!
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O Luzeiro, 1953