Professor Henrique José de Souza
Um dos mais belos e significativos acontecimentos do
ano é, sem dúvida alguma, o Natal. O mundo cristão comemora nesta data o
nascimento de Jesus, o Cristo. Aquele que os cristãos consideram o Salvador do
Mundo e que os verdadeiros Teósofos e Ocultistas reconhecem, além do mais, como
a manifestação cíclica do Espírito de Verdade, ou seja, como um Avatara Divino.
Nessa data, plena de encantamento e de amor, as famílias cristãs se congregam
em reuniões as mais íntimas e santas para cultuarem no recesso de seus lares o
simbolismo do Natal.
Na noite de 24 para 25 de dezembro, conhecida há
perto de vinte séculos como a Noite de Natal, comemora-se em todo o mundo
cristão o nascimento do Menino-Deus, com as manifestações do maior regozijo e
da mais pura devoção. Papai-Noel faz nessa noite sua visita tradicional aos
petizes, deixando-lhes uma lembrança no sapatinho posto à beira da cama. Nos
lares, engalanados com enfeites multicores, há o Presépio e a Árvore de Natal.
Desse modo, ano após ano, de uma forma inconsciente e agradável, é transmitida
de geração a geração uma tradição extraordinariamente bela, cuja origem se
perde na noite dos tempos, anterior mesmo ao advento do Cristianismo.
O simbolismo do Natal oculta transcendentes
mistérios. À luz dos conhecimentos eubióticos, procuraremos levantar uma
pontinha do denso véu que encobre, aos olhos profanos, tais excelsitudes.
Diz a tradição que o Anjo Gabriel apareceu à Virgem
Maria e Lhe anunciou o nascimento do Filho de Deus.
As religiões de todos os povos possuem as suas
Virgens-Mães, Marias ou Mayas que são: Adha-nari, a brâmane; Ísis, a egípcia;
Astaroth, a hebraica; Astarté, a síria; Afrodite, a grega; Vesta, a romana;
Herta, dos germanos; Ina, da Oceania; Isa, a japonesa; Ching-Mu, a chinesa, e
muitas outras, inclusive a que o nosso tupi denomina de Jaci, “a mãe dos
frutos”, etc., pois como é sabido, Maria provém de Mare – o Mar –
simbolicamente “a grande ilusão”. Entre os iorubanos da África, Iemanjá, o
orixá feminino, é a mãe d’água ou o próprio mar divinizado, equivalente no seu
culto àquilo que em tais religiões simboliza a Virgem Mãe, Ísis, a Lua, desde
que Osíris representa o Sol.
Os egípcios acreditavam que o pequeno Hórus era
filho de Osireth e de Oset, cujas almas se transformaram respectivamente nas do
Sol e da Lua, depois da morte desses personagens.
Os antigos israelitas, muito antes da nossa Era,
chamavam a rainha do céu (ou “Regina Coeli”) de Mênia, donde se derivou
Neomênia (Nova Lua), que vem a ser a mesma Maria (em seus diversos nomes), mãe
de Deus encarnado, nos vários cultos religiosos.
Quanto ao lugar do nascimento do Menino Jesus, diz a
Igreja que ele se deu em Belém, cidade da Palestina, tendo sido a criança recém
nascida colocada numa manjedoura. A palavra Belém é formada de duas letras
hebraicas, Beth e Aleph, significando cabalisticamente a Casa de Deus ou Templo
de Deus. Este é também o significado da palavra Apta, muitíssimo mais antiga,
pois provém da submersa Atlântida, tendo sido o nome de sua oitava cidade, a
Shamballah ou “Região dos Deuses”, que mantinha a espiritualidade entre as
demais cidades que se podem interpretar também como províncias ou países,
governadas pelos “Sete Reis de Edom”, Reis que eram na Terra as expressões
humanas dos Sete Dhyans-Choans. Seria supérfluo assinalar a identidade de
sentido entre Edom e Éden, o bíblico Paraíso terrestre.
APTA tem ainda o significado de “creche”,
manjedoura, presépio e também “O lugar onde nasce o Sol”. O simbolismo do presépio
é uma cópia fiel do que existe nos ritos bramânicos, além de outros. Segundo
Bournouf, assim se explica sua origem: A cruz Suástica (não confundir com a
Sovástica do Nazismo que tem a rotação em sentido contrário, símbolo portanto
da involução) é representada por dois pedaços de madeira que, para não se
moverem, são cravados com quatro pregos e na junção dos braços da cruz passa
uma corda que, pela fricção, produz fogo. O Pai do Fogo Sagrado é o divino
carpinteiro Tuashtri, que prepara a cruz e o pramanta que deve gerar o filho
divino. A Mãe do Fogo Sagrado é Maya, que eqüivale à Virgem Maria cristã.
Quando o pequeno Agni nasce (Agni é fogo em
sânscrito; Agnus, em latim, é o Cordeiro. “Agnus Dei Qui tollis peccata
mundi”…) – é colocado num berço (manjedoura) entre animais, e ao lado fica a
Vaca mugidora. Ora, Vach (o mesmo que vaca), em sânscrito significa o Verbo
Sagrado, Palavra Criadora ou Logos Criador.
Procuremos agora relacionar esses fatos com aquela
conhecida passagem bíblica: “No princípio era o Verbo, e o Verbo se fez carne e
habitou entre nós…”
O sacerdote brâmane toma o pequeno Agni em suas
mãos, coloca-o sobre um altar untando-lhe o corpinho com manteiga clarificada,
do que se originou a sagrada unção pelos santos óleos adotada pela Igreja nos
batismos. É justamente quando o menino Agni recebe o nome de Ungido
(Iluminado), Akta em sânscrito e Christos, em grego. Torna-se ele
resplandecente, pois que tudo em seu redor se ilumina. As trevas desaparecem e
os demônios fogem espavoridos ao clarão de sua luz cintilante.
Ele é o Guru dos gurus (ou Maha-Guru, Grande
Instrutor, etc.) o Mestre dos mestres e toma o nome de Jâtavâdas: Aquele em
quem a Sabedoria é inata.
Como se vê, a tradição da Sagrada Família aqui no
Ocidente representada por Jesus, Maria e José (o carpinteiro), se encontra nos
Vedas, a escritura sagrada dos hindus, com uma antigüidade de 3100 anos
anterior à nossa Era.
A mãe de Krishna, que surgiu na Índia cerca de 3500
anos A.C. se chamava Devaki, linda e virtuosa princesa, irmã do Rei de Madura,
em torno da qual se criaram as mesmas lendas relativas a outras Virgens-Mães ou
Marias. É curioso também assinalar a estranha semelhança de grafia e de som
entre a expressão latina Jesus Christus e Ieseus Krishna…
Escreve Blavatsky em sua Doutrina Secreta: “Desde os
rischis indianos até Virgílio, e de Zoroastro à última sibila, todos, sem
exceção, desde o começo da Quinta raça-mãe, profetizaram, cantaram e prometeram
a volta cíclica da Virgem e o nascimento de uma criança divina, que faria
voltar a “Satya Yuga”, a idade de ouro sobre a Terra. Logo que as práticas da
Lei estiverem na ocasião precisa de terminar o ciclo da “Kali Yuga” (idade
negra, em que ainda vivemos), um Aspecto do Ser Divino, que existe em virtude
de sua própria natureza espiritual, na pessoa de Brahmâ, e que é o Começo e o
Fim (Alfa e Ômega), descerá sobre a Terra. Ele nascerá na Família de
Vishnujasha, como um Eminente Filho de Shamballah e Senhor dos oito poderes do
Iogui. Por seu imenso poder, destruirá Ele todos aqueles cujo mental é voltado
à iniquidade. Então a Justiça se fará na Terra, e os que viverem até o fim da
“Kali Yuga”, despertarão com o mental transparente e puro como o cristal”.
Nenhum Ser de tão elevada expressão como Jesus,
nasceu jamais num estábulo… Pelo contrário, em todas as teogonias, o
nascimento de Seres Iluminados se verifica sempre no seio de famílias nobres,
abastadas, de sangue real.
Gautama, o Buda, era o Príncipe Sidarta, de
Kapilavastu; abandonou riquezas, palácios, títulos e bens terrenos para
conviver com os humildes da plebe, viajando como um nômade, ensinando as
verdades do espírito para plantar a semente da salvação sobre seus passos e
criou gerações de discípulos cujas luzes iluminam os séculos dos povos
orientais. Seu nascimento foi marcado pelos mesmos mistérios que envolvem o de
todos os Seres da Divina Hierarquia. Um deva de luz ou anjo o anunciou à sua
mãe que, antes de concebê-lo, teve a visão de um elefante branco ostentando o
Loto das Mil Pétalas, como símbolo da Centelha Divina manifestada na Terra.
Os grandes iluminados nunca nasceram de pais
indigentes, muito menos em um cocho ou manjedoura. Se assim fosse, menores
teriam sido seus sacrifícios e renúncias em favor da humanidade. Não poderiam
sentir em todos os seus horrores as agruras da miséria dos homens se nela
tivessem nascido.
Jesus, o Cristo, cujo nome original era Jeoshua Ben
Pandira (O Filho de Deus, melhor que “o filho do homem”) não nasceu nas
paupérrimas circunstâncias descritas pela tradição exotérica, por isso que era
um Ser proveniente de Salém, a Cidade Luz das escrituras hebraicas, que é a
mesma misteriosa SHAMBALLAH das tradições orientais, “a ilha imperecível que
nenhum cataclismo jamais poderá destruir”.
Segundo a lenda cristã, quando Jesus nasceu foi
visitado por três Reis Magos do Oriente. Qual a verdade que se oculta nessa
lenda? Eis a nossa resposta: os Três Reis Magos representam os Três Chefes do
Governo Oculto do Mundo (sob o ponto de vista de Governo Espiritual).
Representam os Três Chefes ou Triumvirato governador da AGARTHA, que são: o
Chefe Supremo que possui o título de Brahâtmâ ou Brahmâtmâ (apoio das almas no
Espírito de Deus) e seus Dois Assessores ou Colunas: o Mahâtmâ, representando a
Alma Universal, e o Mahanga, símbolo de toda a organização material do Cosmos.
Segundo Ossendowski, o Mahâtmâ conhece todos os acontecimentos futuros e o
Mahanga dirige as causas desses mesmos acontecimentos; quanto ao Brahâtmâ, pode
falar com Deus face a face.
O Mahanga oferece ouro ao Menino-Deus, e o saúda
como Rei; o Mahâtmâ oferece-Lhe incenso e o saúda como Sacerdote; enfim, o
Brahâtmâ oferece-lhe mirra (o bálsamo da incorruptibilidade, imagem de Amritâ),
e Lhe dá as boas vindas como Profeta, o Mestre espiritual por excelência. Desse
modo, o Cristo recém-nascido é homenageado nos Três Mundos, como sendo seus
próprios domínios. Maitréia significa, igualmente, o Senhor das Três Mayas, ou
dos Três Mundos.
Na tragédia do Gólgota, diz a tradição vulgar, a
cruz de Jesus é ladeada pelas de dois “ladrões”. Na Maçonaria o grão-mestre é
ladeado por duas “colunas”, J. e B., iniciais de Jakim e Bohaz, que coincidem,
significativamente, com outras da biografia daquele Iluminado: Jeoshua Ben
Pandira, os nomes das cidades onde nasceu e expirou, Belém e Jerusalém, o nome
de João Batista, seu Arauto ou Iokanã que o batizou no Rio Jordão, no momento
em que sobre Ele desceu o fogo do Espírito Santo simbolizado na pomba
imaculada.
Todos os grandes seres, antes de consignarem sua
presença entre os homens através do ventre de uma mulher “eleita”, são
anunciados por outros seres também de grande excelsitude, que são os Iokanãs.
Este vocábulo pode ser decomposto em Io, com o significado de “o grande
princípio universal feminino” (Ísis, Maya, Lua, etc.), e Canã ou Canaã, a terra
da promissão. Na melhor interpretação, Iokanã é aquele que conduz, anuncia
alguém, pelo Itinerário de IO ou de Ísis, o Caminho Real por onde deve passar
um novo clã, família, raça. Caminho de IO ou de Ísis é o caminho percorrido
pelas Mônadas. IO dá ainda a figura aritmética dez, podendo ser relacionado com
a décima lâmina do Taro divinatório dos boêmios que simboliza a Roda da
Fortuna, a roda dos nascimentos e das mortes nos três mundos. Quem faz girar
essa Roda é o Divino Rotan, o Chakravarti, o mesmo Senhor dos Três Mundos.
Duplicando-se o monossílabo IO, temos IOIO, que pode
também significar mil e dez; substituindo-se a segunda e quarta vogal por S,
temos ISIS, e permutando-se a posição dos dois últimos algarismos (01) forma-se
o mil e um que faz lembrar as Mil e Uma Noites dos maravilhosos contos
iniciáticos, nos quais se encerram profundos mistérios ligados ao longo e
sinuoso Itinerário de IO ou de ISIS. Tais mistérios, na sua totalidade, são
conhecidos apenas pelo Supremo Arquiteto como Logos Criador, do qual se têm
emanado ciclicamente os Avataras Divinos, que vêm com a Sua palavra (a Boa Nova
de cada ciclo) impulsionar as mônadas (para tanto “julgadas” aptas) pelo
extensíssimo IO.
Assim foi com Krishna, Buda e Cristo e com todos os
outros Iluminados que têm vindo a este mundo inferior. E há de ser assim em
futuro próximo, isto é, no começo do século XXI com a Nova Manifetação cíclica
do Grande Senhor, o MAITRÉIA BUDA. Este Glorioso Ser, o Kalki-Avatara das
tradições multimilenares, é também denominado o Cavaleiro Akdorge, que virá
esmagar o dragão do Mal que ameaça devorar a Bela Princesa acorrentada à porta
do palácio, que outra não é senão a própria humanidade encarcerada nas trevas
das superstições e da ignorância, mãe dos erros de toda espécie.
Maitréia, o Senhor dos Três Mundos ou das Três
Mayas, cavalgando seu corcel branco, simboliza o Ternário Superior do Espírito,
dominando e dirigindo o Quaternário inferior da persona, e pessoa do homem
físico, ou seja, o veículo denso através do qual o Som, o Verbo se expressa…
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Quanto ao Papai Noel, este bom velhinho de longas
barbas de neve carregando às costas um grande saco de brinquedos e presentes
para alegrar os corações de crianças e adultos no dia 25 de dezembro, quem é
Ele? Quem inventou essa personalidade tão generosa quanto pontual no
cumprimento do seu dever de renovar anualmente as esperanças da humanidade?
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Quem diz todos os anos, diz “ciclicamente”. Podemos
vislumbrar nessa maravilhosa personalidade natalina o Pai Onipotente, de
infinita bondade, que se manifesta de ciclo em ciclo para premiar os homens que
se mantiveram fiéis ao Espírito de Verdade, presenteando-os com a Boa Nova,
isto é, com novos conhecimentos que propulsionam o progresso das mônadas,
através de mais uma etapa no longo Itinerário de IO.
E a Árvore de Natal, essa dadivosa planta que nos
oferece no fim de cada ano brilhantes frutos simbolizados nas bolas de ouro, de
turquesa, esmeralda e rubi? Ela exprime a Árvore Sefirotal, representa a Árvore
dos Avataras, sendo o seu tronco o Bija ou Semente de todos Eles, a Árvore da
Vida plantada no Quaternário da Terra, que floresce e produz maravilhosos
frutos de ciclo em ciclo. Ela nos diz também da Árvore de Bodhi, ou da
Sabedoria divina, cujos vários ramos com seus frutos multicores significam os
diversos aspectos e as múltiplas expressões da Verdade Única, da Eterna Verdade
apregoada aos homens pelos Avataras cíclicos.
Fiat Lux!