Nas tuas noites de paz, é impossível que me escutes
Um lamento incontido, perdido no ar
É um gemido de amor, um soluço
De saudade infinita a te procurar.
Se o vento gemer, não te espantes, meu bem
Que ele leva o lamento do meu coração
Buscando o aconchego de teu seio querido
Para poder suportar esta atroz solidão.
Se a chuva cair, não lamentes
Que meu pranto ela leva daqui
Pranto triste, abundante, gelado
Pois rolaram de olhos que choram por ti.
Se o trovão ribombar e a terra tremer
Não te assustes pensando fugir
Que ele é o meu grito de dor incontido
Suplicando ao Senhor, que te faças me ouvir.
Se o sol causticar, ressequindo a terra
Não maldigas o horror desse terrível efeito
Que ele é o calor, destrutor e mirrante
Da saudade cruel, que abrigo no peito.
Se o raio fender os céus procelosos
E sua luz ofuscar os teus olhos risonhos
Não te assustes temendo o seu malefício
Que ele é o clarão de teu vulto em meus sonhos.
Se o orvalho banhar teus cabelos
E o marfim de teu rosto afagar
Apieda-te dele, querida
Pois é o único beijo que eu posso te dar.
(Rio de Janeiro – 1965)