Recordando um dia triste… sobre a morte do Professor Henrique José de Souza

Recordando um dia triste…

Transcrevemos abaixo a reportagem publicada no antigo jornal “Folha do Povo” de São Lourenço, datada do dia 11/09/1963, dois dias após o falecimento do ilustre Professor Henrique José de Souza. A matéria mostra o clima de pesar que tomou conta da cidade. Além disso, tornou-se um registro histórico, porque reproduz o raríssimo inserto do Professor Henrique feito no livro do Hotel Miranda, a pedido do proprietário, sob o título “São Lourenço… sob meu ponto de vista”.

 

Foto túmulo JHS São Lourenço 1 Foto túmulo JHS São Lourenço 2

“Folha do Povo”, São Lourenço, MG, 11.09.1963
Documento Histórico.

 

Edição especial do jornal Folha do Povo*, de São Lourenço, sobre a morte do
Professor Henrique José de Souza

 

O sol, levantando-se cedo na manhã de 09 de Setembro, anunciava mais um dia bonito em São Lourenço, sem neblina. Mas no ar pairava um misto de dor e de saudade. Um cidadão, numa da lojas da rua Dr. Olavo Gomes Pinto, perguntou: “O que acontece? A cidade está hoje tão calma, silenciosa… Morreu alguma personalidade importante?”

De fato o grande pensador e educador espiritual, o Supremo Dirigente da Sociedade Teosófica Brasileira e Grão-Mestre da Ordem do Santo Graal, Prof. Henrique José de Souza, cerrara os olhos, deixando, por lei superior, este mundo em troca de outro onde continuará a cumprir sua missão em local de outras dimensões, em prol da evolução humana e da PAZ e Justiça no Mundo. Daí o reflexo calmante que pairava sobre a nossa Estância.

Muitas biografias já existem do grande patrício. O Professor Henrique era conhecido e estimado tanto pelos humildes como pelos homens de elevada posição social, homens de letras, políticos e estadistas, que sempre procuraram dele obter conselhos que os guiassem melhor na senda da evolução.

A verdadeira história desse Homem Misterioso, sob todos os aspectos e em todos os setores da vida, é muito grande.

A fim de recordar uma das mais importantes passagens da Obra, da STB e do progresso material e espiritual de São Lourenço, transcrevemos a seguir, em parte, o que já publicamos em agosto de 1957, sob o título “São Lourenço… sob meu ponto de vista”, inserto pelo Professor Henrique em antigo álbum do Hotel Miranda:

 

“Hoc opus, hic labor est”, disse a sibila de Cumes a Enéas, explicando a dificuldade que há em se sair do inferno (Eneida, de Virgílio).
         “Quando a sibila de Cumes se refere ao inferno, não se trata daquele terrível lugar onde vão penar no “fogo eterno” as almas das criaturas pervertidas por falta de Luz – mesmo porque, tal lugar não passa de um mito criado por cérebros doentios, que concebem um Deus-Pai inimigo de seus próprios filhos e como tal… um Deus vingativo!…

         “A palavra inferno provém de in-fera (lugar inferior), que outro não é, senão, este baixo ou inferior mundo de misérias, onde a maioria dos homens se debate nas horríveis chamas de uma consciência intranquila!…

É aí, pois, onde as dificuldades se apresentam a cada passo… desde que o homem se encontre diante de um problema difícil de ser resolvido!

         “Agora mesmo, grande, enormíssima é a minha dificuldade em aceder ao pedido que me fez o sr. J. Miranda de deixar neste álbum as minhas impressões no momento justo em que a minh´alma genuflexa não encontra palavras para expressar os seus sentimentos.

         “A primeira vez que pisei neste solo abençoado foi em 1921, quando atendendo à Voz Interna ou da Consciência… busquei este recanto maravilhoso da nossa Pátria, onde a Natureza – em eterna festa – não cessa de cantar os seus reais valores.

         “A segunda vez, foi no ano passado (1930) – faz onze meses apenas – mortificado por uma SAUDADE INTENSA desse abençoado lugar, onde grande parte de meu ser aí vivia e sonha mistérios, que as humanas criaturas não podem desvendar – e por isso mesmo, rever lugares que me eram mui caros!…

         “Porém, como já foi dito – das três vezes, foi a atual e mais difícil de ser relatada. Vimos render homenagens ao sacrossanto lugar onde há dez anos o FOGO SAGRADO, descendo sobre a “Sarça Ardente” – tal como aconteceu a Moisés – assim me falou:       

“Detém-te aqui! Este é o lugar santificado pelos deuses invisíveis… os quais doravante guiarão teus passos pela grande Vereda da Vida… onde outros homens fatalmente te seguirão!…

         “Para aqueles que te não compreenderem, esse Fogo Misterioso – que outro não é, senão o da Sabedoria – continuará sendo o “Ígneo elemento” que, pelo formidável metabolismo ocasionado no Seio da Mãe-Terra se converte em ÁGUAS MIRACULOSAS, que curam e aliviam os sofredores do corpo, enquanto que o outro é o Verbo Solar ou Divino, que outras privilegiadas bocas, no passado, no presente e no futuro curaram e curarão sempre os doentes do Espírito!…”

“E a Voz do “Ígneo Elemento” continuou:        

“Tome as tuas ferramentas de Obreiro do “Edifício Humano”, pois dentro em pouco dareis início à construção de um outro Edifício de grandeza inconcebível – que os “deuses imortais” desejam seja Ele erguido neste privilegiado País… que vai abrir uma nova página na História das humanas civilizações”.

“E… a Voz emudeceu, fazendo-se ouvir apenas o ruído enigmático da Natureza sempre em festa!…

         “E… os anos passaram e foi construído o gigantesco Edifício – que outro não é senão – a Sociedade Teosófica Brasileira – com sede em Niterói, Estado do Rio, e hoje disseminada entre alguns Estados da União – por meio de suas Lojas ou Ramas.

         “Nada lhe falta, nem mesmo o Zimbório – invisível a olhos profanos, mas cujos vitrais rasgados pelos raios do Sol, escrevem na nave do Templo suntuoso em letras de Fogo – as lutas e sacrifícios sustentados por uma plêiade de Homens… que se deram em holocausto pela Humana Causa!…

         “E os deuses exultaram de contentamento, por verem assim realizados os seus próprios desejos, isto é, aqueles de há muito apregoados pelos seus fiéis mensageiros: “Que o Brasil – na sua majestática grandeza… seria um dia a “Terra da Promissão” ou a “Nova Canaan”… onde todos os povos do Mundo encontrariam abrigo seguro contra as terríveis tempestades que se têm desencadeado sobre o mesmo!…

         “E… os primeiros albores desta Nova Era de Paz, Sabedoria, Amor e Justiça entre os homens da Terra… foram anunciados pela “Sociedade Teosófica Brasileira” – como Sol Espiritual que é de nossa Raça vitoriosa!…

         ‘ITA DIIS PLACUITI! (Assim aprouve aos deuses).

         “Desse modo foi solucionada a dificuldade única para desperdiçar algumas páginas deste livro com as minhas pobres garatujas!…

         “No entanto, desde já temos que pedir ao Sr. Miranda desculpas pela grande maçada que estas linhas lhe vão ocasionar, quando os seus futuros hóspedes insistirem em saber – ao manusearem este álbum “quem é o visionário que escreveu tão esquisitas e desvaliosas cousas, por isso mesmo utilizando várias páginas deste álbum”. Aconselhamo-lo, porém, a que não tenha acanhamento em conservar o máximo silêncio… deixando ao sussurrar da brisa que responda por si estas enigmáticas palavras: EGO SUM QUI SUM!

         “Com a gratidão e amizade de Henrique José de Souza, Presidente da Sociedade Teosófica Brasileira. São Lourenço, 28.08.1931”.

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Quanto ao progresso material e aumento do patrimônio do nosso Município citemos a Vila Canaan, no Bairro Carioca, onde se acham construídas pelos membros da STB vinte formidáveis residências, além de dezenas de outras no centro e nos diversos bairros da cidade, inclusive prédios de apartamentos, lojas e hotéis. Tudo isso, sem falar no Templo e no Obelisco, na Praça da Vitória, fala bem alto dos reais valores desses dois valiosos seres – o Professor Henrique José de Souza e sua esposa, Dª Helena Jefferson de Souza – que impulsionaram, assistidos por seus discípulos, o progresso material e cultural da nossa estância.

São Lourenço, materialmente falando, ainda é pequena, mas Graças à semente lançada pela STB e que vai crescendo dia a dia, o seu valor espiritual já grande por si mesmo, tende a aumentar  cada vez mais, e está repercutindo no longínquo Oriente e em Lourenço Marques, na África, onde se aponta em Minas Gerais no Brasil, como já tivemos ocasião de publicar em números anteriores, numa estância hidromineral com o nome de São Lourenço, um Templo “como o único no gênero, cujas vibrações espirituais alcançam todo o orbe terrestre”.

 

O Sepultamento

Desde as 13 horas de segunda-feira, na Praça da Vitória, automóveis e ônibus vindos de todos os recantos do Brasil, trazendo membros da STB, estavam estacionados, aguardando a chegada do corpo do ilustre morto que, em carro próprio se dirigia para esta cidade, onde, de acordo com a sua vontade, deveria ser sepultado. O ambiente que, na expectativa da dolorosa espera, ia se tornando pesado, traduzindo-se nos olhos úmidos de todos os discípulos e amigos, transmudou-se subitamente, quando sob os acordes do Hino do Graal, o corpo dava entrada no Templo. A presença serena do querido Mestre e amigo do povo trazia a todos a tranquilidade e a paz que sempre transbordava em caudal de seu imenso coração. Algo de indefinível se espalhou, tocando a todos como uma bênção de luz, que só pode ser comparada à RESSURREIÇÃO introduzida na inacabada e não conhecida 10ª Sinfonia de Beethoven.

O Templo e as suas escadarias eram pequenos para conter todos os que desejavam prestar ao Professor Henrique a sua última homenagem.

Entre os presentes registramos representações dos municípios dos Estados de Minas, São Paulo e da Guanabara e da União. Não temos elementos e nem espaço para citar todos os nomes, porém, destacamos o Deputado Ângelo Zanini, representando o Governador de São Paulo, Dr. Adhemar de Barros, e, entre as representações locais, o Sr. Prefeito, Vice-Prefeito, Presidente da Câmara Municipal, Juiz de Direito, Juiz de Paz, Promotor Público, Vereadores, Gerentes e funcionários de estabelecimentos bancários, funcionários públicos, tabelião, fiscais e outras autoridades municipais, estaduais e federais, comerciantes, industriais, hoteleiros, Presidente e Companheiros dos Lions e Rotary Clubes locais, médicos, advogados, dentistas, escolas, merecendo menção especial o Colégio São Lourenço que, além de se fazer representar pelo seu Diretor, Prof. J. R. Franqueira, suspendeu suas aulas; entre as fronteiras de crenças religiosas, prestaram ao Professor Henrique sua última homenagem.

De São Paulo, da Loja Maçônica Estrela do Ocidente, veio a comenda “Estrela do Ocidente” (Mentor), cujo diploma respectivo traz a assinatura do Ven. Mestre Álvaro Solon Coelho, os quais deveriam ter sido entregues ainda em vida ao Professor Henrique José de Souza, sendo deles portador o Ven. Irm. Raul F. Cruz, que em breves palavras entregou-os à viúva.

Não houve discursos. Só poucas palavras de saudosas recordações e agradecimentos. O Diretor-Social da STB deu publicamente a conhecer que Dª Helena Jefferson de Souza, conforme indicação do Professor Henrique José de Souza, assumirá o compromisso de legítima representante da AGARTHA na face da Terra. Dª Helena, por sua vez, ao ecoarem os últimos acordes dos hinos executados, assegurou ao seu saudoso esposo que podia descansar em paz, prometendo-lhe continuar a Obra em que se acha empenhada a STB.

Anunciada pelo alto-falante da Matriz de São Lourenço a hora da saída do féretro, do Templo, em ambiente de paz e harmonia foi o corpo conduzido para o cemitério local, onde se deu o sepultamento no túmulo há muitos anos adquirido para esse fim.

A penumbra da noite já envolvia a cidade quando o corpo baixou à sepultura, e pouco a pouco o cemitério foi se esvaziando, ficando finalmente o Professor Henrique na solidão, descansando os seus restos mortais.

Foi um acontecimento inédito para São Lourenço, dado o respeito e grande estima que votavam ao Professor Henrique José de Souza os seus inúmeros discípulos e amigos.

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“É sempre salutar ser atacado pelos maus,

pois que os bons não atacam a ninguém”.

Henrique José de Souza

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*Folha do Povo, propriedade de Otto Jargow, membro da STB e padrasto de Valéria Vera de Souza Reis, integrante da mesma Instituição. Ambos já falecidos. 

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