Palestra de Henrique José de Souza – Ano 1936

Esta é a terceira e última da minha série de palestras, que embora possuindo cada uma um título adequado com o assunto que lhe servia de tema, simbolizam as três: ciência, religião e arte, formando um acorde musical perfeito.

A sessão será iniciada com o “Hino Dharana”, nome que possuía a nossa Sociedade no começo de sua vida, pois, como sabeis, foi uma época “mística”, tal como a sua origem, isto é, as Fraternidades lamaístas (budistas) transhimalaias, que a criaram.

Nesse caso quem o vai acompanhar possui algo de místico em nossa Obra, tal como outrora nos Templos sagrados do Oriente, a Sacerdotisa guardiã do Fogo Sagrado. Ademais, seu próprio nome – Helena – proveniente de “Hélios”, o Sol (que por sinal é também seu planeta de nascimento, como o era o de Helena Blavatsky), harmoniza-se perfeitamente com o que acabamos de dizer. Nesse caso, serei eu quem a finalizará (a sessão), acompanhando o Hino atual, “O Alvorecer de Um Novo Ciclo”, como a parte intelectual ou dirigente da mesma Obra, não pelo meu Saber insignificante, mas por motivos que somente a Lei os poderá explicar.

A Idade de Ouro ou Satya-Iuga, anunciada desde tempos imemoriais, já pela boca dos “rishis” indianos, das sibilas, dos profetas, e até do próprio Virgílio, através a sua Eneida etc., Era da Humana Redenção, e que tem ocasionado por parte de fanáticos, muito comum nesse fim de Ciclo apodrecido e gasto, as ideias messiânicas, só terá lugar quando, por esforços próprios, no mínimo quando dois terços da Humanidade houverem tomado o Caminho verdadeiro que conduz a essa mesma Redenção. Tal época, já os Grande Seres de Compaixão – pela boca de seus discípulos e arautos – cognominaram de “amanhã resplandecente” ou “Era da Felicidade!”  Por isso mesmo que será a do Equilíbrio perfeito das coisas, sempre dentro das iniciáticas fórmulas de Harmonia, Melodia e Ritmo; Amor, Verdade e Justiça; Beleza, Bondade e Verdade etc. Ademais, o próprio termo “Idade de Ouro” se ajusta à cor da matéria Sattvica, que é o amarelo-ouro!

E é assim que nem sempre a música melodiosa agrada às naturezas passionais, mas sim a emocional, porque provoca os sentimentos estéticos de aparente felicidade. As maiores melodias que o povo prefere, são as encerradas nas canções populares, que refletem tanto as alegrias como os pesares, as esperanças e as paixões de um país… e levam séculos para serem formadas.

Nenhuns povos do mundo possuem canções dessa natureza, como Portugal, Espanha e Brasil e demais nações da América latina, justamente, por serem daquela origem (ibérica), onde além do mais – quer         queiram ou não os contrários à nossa opinião – predomina o sangue “árabe”, cujas desérticas canções… são de natureza puramente espiritual!…

A Música de ordem artística mais elevada começa pelo princípio harmônico. Tal espécie de Música age não somente sobre as mais elevadas emoções, como sobre o Intelecto. O Ritmo é uma manifestação puramente física. A Melodia, que sem determinado fim, nenhum sentido possui, é uma simples série de sons… que conduz nossas emoções de um lado para outro… A Harmonia, porém, afeta simultaneamente o Coração e a Mente. Sim, porque a Harmonia é a própria Lei da Natureza. E com a combinação dos princípios harmônicos e rítmicos, são formadas todas as coisas dentro da Criação.

música_Wagner

A Harmonia estimula no homem o amor ao Belo e faz vibrar nele uma célula correspondente ao seu idealismo. Ouvir uma Sinfonia é proporcionar imensa energia mental. Ouvindo-se as composições dos grandes Gênios, goza-se de uma música divinizada, que nos conduz aos reinos místicos da mais transcendental espiritualidade. A grande Música não requer apenas compositores que tenham penetrado no mundo Intuitivo para poder compô-la. Mas também de artistas criadores de primeira ordem que a saibam interpretar.

Em verdade, nossa Música espiritual deve ser a Síntese das demais, desde que seja reproduzida em instrumentos capazes de emitir notas de um matiz mais delicado que o das outras a que estão costumados a ouvir os auditórios ocidentais. Tal acontece com as músicas hindus, egípcias, árabes etc. etc.

O amante da música emotiva deverá dar preferência às de Schubert, Weber, Schumann, Mendelssohn, Chopin e poucos mais dos melhores românticos que se conhece. Ouvindo a Beethoven e a Brahms, experimenta-se um sublime sentimento e uma excelsa aspiração. Com Bach, se tem a impressão de estar construindo uma catedral de pedra e cal. Com Tchaikovsky, o mestre que sabe dar colorido aos sons, é-nos possível, quase, desenhar imagens tão brilhantes como as etéricas luminosidades do Arco-Íris. O Espírito da Música criada pelo gênio adorável de Ricardo Wagner é impossível analisar-se fora de sua própria poesia, pois como ele próprio disse: “Cresceram juntas…” Foi Wagner, provavelmente, quem mais se aproximou, dentre todos os compositores, das mais sublimes emoções da humana natureza.

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Como vemos, a Música exerce influência poderosa na educação Emocional, Mental e Espiritual do gênero humano. Debaixo de sua misteriosa influência, a humanidade pode agitar-se comovida por múltiplas emoções. Pode ir do mais baixo ao inferior, ao mais alto ou superior. Pode fundir-se na voluptuosidade de uma música sensual e rasteira, como é, por exemplo, a do jazz etc., ou escalar os mais altos cimos espirituais, onde se encontra o Eu… E daí, extasiar-se na mística União com o Todo!

Como já foi dito, entre os grandes Gênios inspiradores da Humanidade, destacam-se Wagner e Beethoven.

Wagner, através de seu drama líteromusical, como um gigantesco comentador dos Edas – ou Vedas escandinavos – como sejam: O Anel de Nibelungo, O Ouro do Reno, Valquíria e Sigfried, Os Mestres Cantores de Nuremberg, Parsifal, Lohengrin etc., imprime na Música toda a Epopéia grandiosa das iniciações humanas, através a Vereda da Vida.

Quanto ao “menino prodígio” com o nome de Wolfgang de Amadeu Mozart, seria o protótipo desses excelsos Filhos da “Divina Arte”, se não houvesse cometido o grande erro de musicar o “D. João”. A Lei não poderia jamais perdoar ao autor do “Desposório de Fígaro”, de “A Flauta Mágica”, das “33 Sinfonias” e um sem número de músicas clássicas, emprestar seu talento para consolidar ainda mais os falsos e tenebrosos alicerces do Amor inferior, que há milênios domina o mundo! Daí três misteriosos seres que o procuraram para que compusesse seu próprio “Réquiem”, como provam estas suas próprias palavras: “Dentro em breve esta música será cantada nos meus funerais”. E assim foi!… Bem razão teve o grande Roso de Luna em afirmar no seu valioso trabalho intitulado Cuando se muere: “Todo aquele que traz missão elevada, mas que por um motivo qualquer não afina consigo mesmo, com a sua missão, morre! Não importa como, porém, é forçado a deixar o mundo!”

Infelizes, por sua vez, Molière e Byron, dando vida e realce à figura sinistra de quantos D. Joãos por aí existem, desde que a Humanidade se dividiu em sexos. Enquanto isso, por exemplo, um Guerra Junqueiro procura destruir o pesado madeiro do Sexo, que desde idades sem conta faz cair por terra essa pobre humanidade a que pertencemos. De fato na nota final da “Morte de D. João”, o excelso poeta, anunciando a sua Trilogia, revela bem nítido e claro o pensamento do seu Prometeu: “Depois da negação, a afirmação. Depois de ter destruído o Mal, simbolizado nessas duas figuras grandiosas – D. João e Jehovah – é necessário afirmar a justiça encarnada em duas figuras sublimes: Cristo e Prometeu. É a Ciência e a Consciência, a liberdade e a fé, o sentimento e a razão. Quando esses dois termos do espírito humano [a Ciência e a Consciência], há tantos séculos afastados, se fundirem numa harmonia completa, o homem desde esse momento será justo, será bom, será feliz”.

Do mesmo modo, na arte musical foi Beethoven quem levou a palma da Vitória sobre os demais, até o fim de sua vida de Iniciado. Ele não foi apenas o maior músico e mais puro artista que existiu. Foi o generoso coração ferido de todos os infortúnios, que se fez mais forte do que todos eles, consagrando sua vida às gerações futuras.

Tal como os Cristos e Budas que deixam após suas passagens por este planeta de dores, seus corpos celestes, o perfume de suas vidas santas e potentes, para que a Humanidade se auxilie mutuamente nessa constante luta por ascender ao Divino, Beethoven deixou-nos também seu corpo e sua alma no que de prodigioso existe em suas Nove Sinfonias. Elas representam não só uma Bênção para os homens, como uma prova palpável de que por maiores que sejam as dores que nos afligem, haverá sempre uma porta aberta por onde poderemos nos elevar para os céus e participar, internamente, da gloriosa ALEGRIA que ali existe. A sua Décima Sinfonia, que o mundo desconhece, por ter sido escrita em língua sagrada ou “Jina”, é bem a Décima Sephiroth cabalística – Malkuth ou o REINO – por ser justamente para onde evolou a sua alma de Artista incomparável: o Reino da Verdade!…

E assim como ele, que soube transformar uma vida de dores, acalentado por seu próprio Gênio, numa extasiante Alegria, que o conduziu – herói entre os heróis envolvido pela Harmonia das Esferas – assim deverá ser a Alegria que devemos buscar: a do Humano Titanismo.

Tal como a ave que necessita lançar-se no espaço sem as limitações da gaiola, onde a mão impenitente do homem a lançou, para termos a consciência do Infinito necessitamos romper todas as barreiras de nossa gaiola (ou jaula), que é a nossa personalidade limitada, a fim de podermos voar ao Infinito, e sermos banhados no brilhante Mar do Aura dos Deuses e dos Gênios Protetores da Humanidade!

E com isso termino a minha série de Três conferências, num Acorde perfeito de Três Notas dentro da mesma oitava (ou uma semana para cada uma delas), como se tivesse aberto a porta de minha própria jaula, para mostrar-vos um rico vergel, que por breves instantes contemplamos juntos.

Desgraçadamente o tempo não nos permitiu percorrer seus agrestes caminhos…

E muito menos provar de seus saborosos frutos, miraculosamente amadurecidos pelo Sol. Aspiramos apenas às extasiantes emanações que de suas flores e brisa nos quis trazer. E mui de longe, pressentimos o gorjeio argentino de seus pássaros!…

E como sejamos forçados a cerrar novamente a porta dessa jaula tão grosseira, para volvermos aos calabouços da tarefa obrigatória, continuemos, amigos e irmãos queridos, como míseros escravos de uma civilização imperfeita, que fez do Trabalho um castigo e do Amor um pecado…

Quanto ao vergel, outro não é senão o da Sabedoria dos deuses, donde saíram os caminhos da Ciência profana. E também os da Arte, pela implícita INTUIÇÃO filosófica que a mesma encerra.

Sempre que puderdes, vinde gozar conosco desse vergel que é bem semelhante aos Jardins da Academia de Platão.

Vinde embriagar-vos de entusiasmo nesse vinho espiritual que purifica ao invés de embrutecer, pois ele é preparado com a Ambrosia dos deuses. E então um dia acabareis ouvindo e obedecendo a Voz de vossa própria Consciência, que é a da INTUIÇÃO, de que foi assunto o humilde Trabalho que hoje vos ofereço, não só pelo amor e respeito que me mereceis, como o dever que se me impõe de concorrer para a vossa verdadeira felicidade, que é a Espiritual.

Vitam impendere Vero, isto é, A Vida inteira a favor da Verdade!…

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“Que é Intuição?” – Dharana 87/88, ano 1936, páginas 540 a 544.

 

ESCLARECIMENTO

No tempo dessas palestras, a Instituição oficialmente fundada pelo Professor Henrique José de Souza tinha apenas 12 anos de vida e chamava-se Dharana Sociedade Mental Espiritualista, em homenagem à “5ª Rama das Confrarias Budistas do Norte da Índia e do Oeste do Tibete”, onde Henrique, então adolescente, esteve em 1899. Na época de Dharana o grupo de peregrinos interessados em suas palestras era relativamente pequeno, indefinido… Seres de Planos Superiores observavam com critério o interesse da platéia aos Estudos Iniciáticos de Henrique, como a separar com a peneira os que apenas iam por curiosidade ou atraídos pelos fenômenos, daqueles que de fato pretendiam o Caminhar da Evolução.

Como detentor da Obra do Eterno na Face da Terra, uma das múltiplas atribuições de Henrique era passar aos interessados – à medida que se firmavam como discípulos – os Ensinamentos e as Iogas do Novo Ciclo Evolucional, Iniciação única porque REAL e não simbólica como era no passado: Iniciação ao Culto de Melki-Tsedek.

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Zélia Scorza Pires
São Lourenço, 08.01.2016

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